- Pópilas, pá! Isso é abuso. Um gajo, que já plantou mais árvores do que aquelas que a dita kafloresta da Ilha de Luanda tem, não pode cortar um arbusto? Isso é abuso. Onde é que está essa lei. Eles (referindo-se aos ex-refugiados da Swapo) quando andaram na banda não cortavam árvores? Cozinhavam com o quê?
Andando cansado pelas mulolas, uma espécie de kamundas com arbustos espinhosos, onde lagartos não se contam, Mangodinho procurou cortar um arbusto para fazê-lo de cajado. Era muito sol, muita sede e muito cansaço mas o "atrevido" foi logo cortado.
- It's forbiden, Mr. Mangodinho.
O homem, já mais em arrasto do que caminhando, não se conteve. Sorte é que apenas o guia entendeu, mas o tom malicioso seguido de gestos grotescos não ficou incólume.
- What did he said? - Questionaram os magala de lá, mais polidos do que alguns de cá.
- Not, Dear. He said only that is tared. - Respondeu o guia.
Mangodinho teve de caminhar assim mesmo, com a barriga a indicar-lhe o caminho na frente daquele corpo kambuta. E é já próximo de casa, de regresso, que choca de cara com a SWAPO PARTY SCHOOL.
- Pópilas, pá! Esses gajos em tudo que é bom sabem kabular e inovar. Só nós é que não? Nossa escola do Katambor fecharam porquê? Custava dar-lhe uma outra orientação mais doutrinária do que literária e continuar a forjar os quadros do meu Glorioso em matérias que são agora o cavalo de batalha do Cda JLo? Vou propor uma nova quando chegar à nossa Luanda. E, se me disserem que não têm terreno, entrego o meu de 20/30 no Zango IV.
Mangodinho, homem de ideias, chegou a casa. Corpo cansado, meio sarado, mas cabeça repleta de novas ideias para propor em sua Ngimbi e materializar na sua aldeia de Pedra Escrita e arredores. Já se sussurra em surdina que na próxima remodelação vai subir para administrador comunal, com o fito de implementar as suas ideias revolucionárias em todas as comunidades sob sua jurisdição. E não são poucas!
Publicado no jornal Nova Gazeta de 22.02.2018
Publicado no jornal Nova Gazeta de 22.02.2018
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