Desde a minha adolescência, no Libolo, quando Benguela "ficava ainda longe" que ia ouvindo estórias sobre "pegadas" para atrair raparigas, emprego de director nas três Unidades Económicas Estatais ligadas ao café (Libolo I, II e III), pegada para conseguir cargos de comissário ou delegado, pegada da invisibilidade diante das rusgas do ST e PCU, ou ainda pegada para ser nomeado director de escola, internato ou centro médico. Falava-se também em pegada para conseguir encaminhamento escolar para o Sumbe aonde pouquíssimos eram enviados para fazer o curso médio de educação. Em Kalulu, dizia-se que o velho "bruneiro" mais famoso era o Kakwete que se gabava oriundo de Ndombe Grande ou que tivesse de lá "bebido a ciência" da wanga forte e infalível para todas as situações.
Naqueles tempo de primeiros cantos rosados às kilumbas, o que os tímidos mais procuravam era o Kacilingi cimwe. Diziam que "bastava andar com o pauzinho no bolso e esfregá-lo aos dentes quando visse a pretendida" e, no dizer dos crentes, aquilo actuava como tiro certeiro.
Mais mentira do que verdade, alguns jovens tímidos em desfazer-se do nó na garganta iam mesmo ao intrujão que "lhes comia" o pouco dinheiro que conseguiam a muito custo. Felizmente, sempre fui duvidoso dessas coisas e ao chegar à adolescência nunca fui tentado a tais práticas nem as temos, embora respeite os crentes e suas crendices.
Convidado para uma palestra no Seminário Propedêutico de Benguela, decidi fazer gosto ao motor e à estrada impecável para conhecer a tão famigerada comunidade. Ndombe Grande é uma comuna que se situa no caminho costeiro para Namibe, uns cinquenta quilómetros da Cidade das Acácias Rubras.
Parado o carro junto ao mercado da edilidade, fui sarcasticamente perguntando a jovens (rapazes, raparigas) e adultos "onde vendiam o que muitos, por toda Angola, dizem ser forte e inigualável".
- Hoko! Ó mano, é tudo mentira. Aqui "no" tem. Nem Kacilingi cimwe nem migosta. É só mesmo mentira das pessoas.- Recebi como respostas.
Afinal o único medo de Ndombe Grande é somente a distância para lá chegar. O resto são mitos e crendices. Para mim, nada de razão!
Publicado pelo jornal Nova Gazeta a 15.02.2018
Publicado pelo jornal Nova Gazeta a 15.02.2018