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quarta-feira, abril 29, 2015

OLHOATENTO (MESU MAJIKUKA): 10 ANOS!

Numa sexta-feira de Abril de 2005, a partir da Faculdade de Ciências Humanas e Sociais da Universidade Católica de Lisboa, escrevíamos o texto que se pode ler abaixo. De uma brincadeira que visava entreter os colegas ao curso idos de Angola (Alves Fernandes, José dos Santos, Pe. António Estevão e Carolina Barradas), Moçambique (Ouri Pota, Josina Taipo, Faruco Sadique e Pe. Abel), São Tomé (Manuel Dande e ..., Cabo Verde (Hulda Moreira e mais um companheiro) e Guiné Bissau (dois integrantes), nasceu um Bloque de referência nacional que serve de consulta alternativa e fonte de informação para alguns jornais convencionais.


||Sexta-feira, abril 29, 2005 "Olho Atento", Edição nº 1 de 29 de Abril Folha de actualidade sarcástica Director: Soberano, LC. Edição nº: 1. Preço: E.1
 .........................................................................................................................................................................EditorialPrezados Caros leitores,”O olho” é um projecto que surge para criar um ambiente sarcástico, alegre e de interacção entre os participantes ao terceiro curso de jornalismo destinado aos PALOP.A ideia mestra é fazer com que todos leiam e escrevam sobre si mesmos e sobre colegas, sem tocar a máxima intimidade. É também um barómetro sobre o impacto do sensacionalismo aos olhos dos jornalistas dos mais diversificados órgãos, como é a composição deste grupo._Qual a nossa reacção quando os visados somos nós?Não sendo apanágio da folha a exposição gratuita de quem quer que seja, é garantido o direito de correcção e de resposta.Tudo o que “o Olho” vê é notícia, a confirmação vem depois.Mãos à obra!
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O Cacho deDendém e o Kilate do DiamanteJá era conhecido o peso do Dendém e os seus eternos pesadelos durante ás aulas. Que o Diamante índico também era tão sonolento, era ainda novidade."O Olho" que não dorme viu Dendém e Diamante em sono profundo na AACS, dormindo que nem "crianças em festa rija".A dormirem como dormem "O Olho" só se interroga sobre o que terão a transmitir nos órgãos de procedência.
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Há matanças no D.Manuel I Paraquedistas, políticos e até governantes estão entre os mortos.Todos os dias chegam relatos de todos andares sobre suicídio de menores com segundos de vida terrestre."O Olho" tem equipa de repórteres espalhados pelo Hotel.Dados actualizados apontam o quinto piso como o que regista maiores índices de infanticídio. A PSP já foi contactada, mas a colecta de provas está dificultada, já que as mortes acontecem em jejum, ou seja nos WC.Uma lista detalhada pode ser publicada nas próximas edições, contando para o efeito com os préstimos da “Rádio Boca” de Ouri Pota.
.........................................................................................................................................................................Ratzinger “O Biscateiro”
Tirou o véu e mostrou que é homem com H de Hospital. Ou seja homem de carne e ossos. Juntando o útil ao agradável, Ratzinger que visita Lisboa aproveita conviver com os peregrinos que tiram pecados em Fátima, onde se diz recebe alguns troquititos pelas penitências que “receita”.“ O Olho” sabe que em horas esquivas, Ratzinger já apontado pela media portuguesa como bom apreciador de vinho do porto não perde ocasião para apreciar umas boas birritas.O também comunista difere em muito do “Bispo Tonho” resguardado à santidade cristã decadente.Não larga a túnica mas cadé a bíblia?
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................................................................................................................................................................... A Capital: Faz 4 anos amanhã. Editor-Chefe promete frascos.
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LAC_Luanda Antena Comercial. 95.5 para Luanda e arredores.
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Não castigue o estômago. Usura não é obra do passado. Receba 10 e pague 12. FB-Negócios. No 705-H-DM I. Lisboa.
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Angolano, 30 anos. Vende-se.
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Na próxima edição: Saiba quem foi ter com a Nancy para um adiantamento da segunda tranche. Caracterização do angolano e "As paqueiras" do Queiró. Não perca!http://olhoatento.blogspot.com!||

segunda-feira, abril 27, 2015

JUSTINO HANDANGA CANTA MÚSICA REGIONAL OU FOLCLÓRICA?


"Folk lore" é um termo anglófono que significa sabedoria popular. Quando essa sabedoria é musicada ou cantada estaremos em presença de música folclórica ou folk music. O termo ganha seu sentido etimológico no século XIX e indica, especialmente, a música feita pela sociedade pré-industrial, fora dos circuitos da alta cultura urbana. Durante o século XX, o termo "folk music" recebeu um segundo significado: um tipo específico de música popular que é descendência cultural da música tradicional rural, ou de outro modo influenciada por ela.

A música folclórica sobrevive melhor em zonas onde a sociedade, geralmente rural, ainda não é afetada pela comunicação de massas e pela comercialização da cultura. Era geralmente partilhada e executada pela comunidade como um todo, sendo muitas vezes transmitida pela tradição não escrita.

As canções tradicionais de um povo tratam de quase todos os tipos de actividades humanas. Assim, muitas destas canções expressam crenças religiosas ou políticas de um povo ou descrevem sua história. A melodia e a letra de uma canção popular podem sofrer modificações no decorrer de um tempo, pois normalmente a transmissão é oral e passam de geração em geração.

Muitas vezes ouvi certos jornalistas angolanos a rotularem a música que não se faz em Português e Kimbundu como sendo música folclórica, pelo simples facto de não ser executada na capital do país, e como se “Angola fosse Luanda e o resto matagal”.

E, pergunto: A Música de Socorro (Uiji), Justino Handanga e José Kacyungu (Centro), Santos Católica (Leste), Kahinza (Kwanza-Sul), etc. é toda ela folclórica?

Na foto: Soberano Canhanga e Justino Handanga

sexta-feira, abril 24, 2015

A FORÇA DO PREGÃO FEMININO


Em Lucas 16: 1-16, lê-se que "quando Jesus ressuscitou apareceu primeiro às mulheres (Maria Madalena, Maria mãe de Tiago e Salomé) e só mais tarde se apresentou a seus discípulos, todos homens, (sendo esses incrédulos e ´cobradores´ de provas materiais. Fê-lo Tomé ao exigir que só acreditaria caso visse as marcas das feridas).
-Por que se terá apresentado primeiro às mulheres?
- Quem são os campeões da difusão de pequenas e grandes mensagens/novidades?
- E por que algumas denominações religiosas impedem ou inibem as mulheres de pregar a palavra santa, se foi a elas que Jesus ressuscitado se apresentou primeiro?
- Quem mais, entre os antigos cristãos, difundiu aos povos a Boa Nova da ressurreição de cristo?
Aleluia!

domingo, abril 19, 2015

MÃOS À OBRA

MÃOS À OBRA
No serviço, na zunga, na kitanda, na "rabota", na Igreja, na escola ou em qualquer ofício digno, andar já se torna melindroso.
O mundo está tão apressado que os patrões (todos os que destinatários da nossa prestação física e ou intelectual) querem tudo para "ontem".
É preciso correr sem tropeçar, ser célere no pensar e agir.
Ou varremos o trabalho ou o trabalho varre-nos!

terça-feira, abril 14, 2015

A ÁRVORE DE NDEMUFAYO

Em 2004, integrando uma delegação do Primeiro-Ministro angolano de então que visitou Ondjiva, conheci Oyole, local em que se encontram sepultados os restos mortais do guerreiro rei kwanyama, Mandume ya Ndemufayo.
Como recordação, peguei uma das folhas da árvore mítica em que se diz "o rei se terá suicidado para não se render aos alemães e desencorajar a luta pela independência do seu povo".
Chegado a Luanda, a folha foi colocada num quadro e tinha um grande valor simbólico. Ela, por si só, contava-me a história sobre a resistência dos ovambo/kwanyama e recordava-me sobre as peripécias daquela viagem Luanda-Lubango-Kahama-Xangongo-Ondjiva, Oyole(ida) e Ondjiva-Luanda (regresso).
Infelizmente, alguém não valorizou o quadro e o seu conteúdo, jogando-o entre os descartados.
Longe do Kunene, sem acesso à árvore, espero que alguém que me conheça e que passe por lá me ofereça uma folha de "omufyati", a árvore sagrada dos ovambo/kwanyama.

quarta-feira, abril 08, 2015

MINIATURAS QUE FAZEM DIFERENÇA

Nos meus tempos de infância era um assíduo ouvinte da RNA e, principalmente, dos seus noticiários e do programa ANGOLA COMBATENTE. Nessa altura, era frequente ouvir-se os correspondentes da Rádio a usarem a expressão "desde Kalulu recebam os cumprimentos do Soberano Kajila". Felizmente, hoje já não se ouve em toda a antena a troca da preposição "de" pelo advérbio de tempo "desde". Calculo que tenha sido emitida uma portaria proibitiva: "não se diz desde XXXX. Diga-se da Maianga para o mundo ou do Huambo para Luanda".
E foi bom que assim tenha acontecido, devendo repetir-se a dose em relação a outros percalços linguísticos ainda reincidentes.
Mudando de assunto, há estudantes universitários que ainda não se consciencializaram que até nós, os jornalistas, também "lutamos com a Língua de Camões", não sendo ela o objecto de estudo específico do jornalista, embora a deva dominar para melhor comunicar. Muitos não deram conta ainda que o jornalista que "sabe tudo ou sabe muito" é um mito. Não existe. Não é o facto de o indivíduo ser jornalista que o torna muito culto ou dominador da Língua Portuguesa.
Oiço muitos estudantes, na academia, a justificarem que "no rodapé da TPA escreveram Lunda-Norte (com hífen) ou a palavra tal de forma Xis". Outros dizem que na minuta de requerimento que se encontra afixado na Administração "está escrito assim e não como o mestre ensina". Nunca os passou pela cabeça pensar que o funcionário da Administração ou o homem que escreve os oráculos na TPA podem ter menos conhecimentos linguísticos do que eles, podendo ser eles, os estudantes,  os agentes de mudança de quem se espera.
Furtam-se da dúvida e refugiam-se num argumento reducionista da sua própria capacidade intelectiva.
René Descartes recomenda a dúvida metódica: "não ter tudo como verdade acabada". Desconfie. Duvide. Questione. Investigue. Compare. Aprofunde o conhecimento.
Lembro que os conhecimentos específicos (Geografia, História, Direito, etc.) são apenas o "camião carregado" que para chegarem ao destino (serem aplicados com coerência) precisam de uma estrada (uma língua que se domine razoavelmente).
E para terminar, meus amigos (estudantes de LP), quando mesmo é que devemos grafar as palavras com iniciais maiúsculas?
É que, nas pequenas redacções escritas à mão, vejo maiúsculas até no meio da palavra.

sábado, abril 04, 2015

A PAZ QUE "ESTAMOS COM ELA"


Custou sangue e sacrifício.
Lembro-me de kotas que se escondiam em tectos falsos ou em tamborões com água para escapar das rusgas dos militares de ambos ao lados do confronto. Lembro-me do sofrimento das mães obrigadas a mentir que não tinham filhos para não os ver partir ainda imaturos e, se calhar, para nunca mais voltarem. Recordo-me da preocupação dos pais, impotentes, inconformados, mas sem armas para travar o curso dos acontecimentos. Vem-me à memória a tristeza que se apossava das famílias quando o filho varão atingisse os 18 anos, hora de partir (in)voluntariamente ou forçadamente para a "vida kwemba". E havia aquelas famílias em que dois ou três rapazes estavam "abrangidos"...
Sou hoje  pai de um jovem de 18 anos e, felizmente, não enfrento  aquela tristeza vivida pelos pais de jovens nos idos anos 80 do sec. XX.
Eu mesmo, aos 14 anos, estive a fazer recruta semi-voluntária. Se não tivesse o "olhoatento" e "sapar" a tempo para Luanda seria mais um dos desaparecidos, estropiados ou ou desmobilizado e sem meios de subsistência.
Em Março de 2002, depois da morte do Jaguar Negro, estive no Lwena a reportar os momentos políticos e sociais que antecederam ao aperto de mãos, na sede da Assembleia Nacional, entre Armando da Cruz Neto e Geraldo Abreu Mwengo Ukwacitembu "Kamorteiro".
Vivi e vi o que custou a paz, pois estive também,  como jornalista, em algumas zonas de conflito. Vi estropiados com a vida por um fio. Partilhei roupa do corpo com deslocados e ou regressados das matas. Visitei Ondjiva, Kahama, Kwamato, Môngwa e Xangongu, localidades estropiadas, engessadas e com feridas ainda visíveis.
Com feridas ainda sangrentas, canteiros da cidade transformados em cemitérios e poços para o suprimento de água servindo de covas para esconder os mortos dos homens ainda viventes visitei  Kwitu, cidade que a guerra pós-eleitoral partiu ao meio.
Na infância e adolescência, dormitei nas matas sob chuva intensa e frio. Fiz caminho entre capim alto e espinhos. Calcorreei os rios Kazondo, Riaha e Sangisa (Libolo), andei a pé dezenas de quilómetros em asfalto que ensaiava a sua quentura em meus pés frágeis e descalços. Enfrentei atalhos espinhosos, fugindo sempre dos homens do "Barbas".
Já percorri, em 1989, cerca de cem quilómetros seguidos em três jornadas: Kalulu-Munenga-Pedra Escrita-Mbangu de Kuteka. A vila de Kalulu, onde estudava, tinha sido atacada na noite de natal pelos confrades de Kalumbungu. Estava tudo em chamas e os adolescentes, apetecível carne para canhão, nunca eram poupados para engrossar as hostes dos "quebra-pontes e postes", como eram por nós apelidados os insurrectos.
Em 1984, criança ainda, depois de largas noites nas matas, fora da aldeia e do arimbo, fugindo da guerrilha, refugiámo-nos na sede comunal da Munenga. Um veado inteiro apanhava fumaça para não se estragar a carne. Só a “jinginga” foi servida ao jantar. Nessa mesma noite de Fevereiro, os homens da farda apertadíssima atacaram a sede comunal que era guarnecida por tropas das Fapla e da Swapo. Lembro-me ainda do curativo que um enfermeiro da Swapo fez, na tarde da chegada ao vilarejo, à minha ferida na minha perna que já deitava cheiro. Em madrugada repleta de violência inédita, uma bala levou fios de cabelo do meu primo Naldo, hoje comissário da polícia nacional. O francês que o meu primo já falava salvou-nos do rapto gratuito. Muitos parentes e amigos da família morreram naquela trágica madrugada. Andrajosos, exauridos em tudo, partimos a pé para Samba Karinje, em mais um recuo. Lembro-me que a minha mãe teve de trabalhar, pela primeira vez, em lavra alheia por comida...
Aqui chegados, 13 anos depois do calar das armas, reconciliemos as almas.
Ainda falta pão em muitos lares. Água e energia eléctrica  ainda são um luxo para muitos. Escasseiam ainda os empregos, a saúde e formação de qualidade. Faltam estradas e o transito em cidades como Luanda e Lubango é insuportável em horas de ponta. Sei disso. Mas peçamo-los com discernimento, sem entornar o caldo da paz.
Peço a todos angolanos a máxima atenção: o caldo fervente alimenta-se com lenhas. A panela está sobre "maswika". Entre "maswika" se colocam as lenhas. Derrubando uma das pedras que suportam a panela, esta se desequilibra e perde-se o caldo. Onde brigam elefantes é o capim que sofre.
Viva a paz!

quarta-feira, abril 01, 2015

UMA FUBADA A ROBER ADRIEN


Nunca é tarde para se conhecer uma terra, uma cidade ou vila, mesmo tratando-se das que se situam nas proximidades das nossas barbas mas que a falta de oportunidade ou interesse imediato impediam. Aliás, há gente que não passa do costumeiro café da esquina mesmo sabendo da existência do amplo mundo por explorar.

Nesta senda, conheci, finalmente, Caxito (desconfio que a grafia correcta e fiel ao Kimbundu, língua da região, seja Kaxitu: pouca carne), capital do Bengo, sede provincial mais próxima de Luanda e que, em termos de infraestruturas, também deve muito (quando comparada) às demais 17 sedes capitas de províncias.

Poe exemplo, Caxito é uma vila rasgada por uma única rodovia, EN 100, que nos conduz ao "Úkwa, Negaje e Wíje".

Aproveitando a extensão para dia seguinte do feriado dedicado ao dia internacional da mulher, 08 de Março, eu e os de casa, acompanhados pelos compadres Spina e Yana, decidimos "explorar" o Bengo, começando por Caxito.

Encontramos uma cidade (?) inundada, aparentemente sem colectores de esgotos, impossibilitando a prestação de alguns serviços como no "banco do imbondeiro" que se encontrava quase submerso, ante a chuva de véspera e outra do dia, cuja água se juntou à anterior.

Água e lama juntaram-se ao famigerado jacaré bangão (que se terá negado a pagar o imposto indígena no tempo do kaputu) como postais de visita aos neófitos excursionistas.

E como se uma cidade (?) construída em zona plana, sem declive para encaminhar as águas pluviais ao sorvedor Atlântico, fosse pouco, assistimos a um trânsito automóvel muito lento e perigoso, de Cacuaco (Luanda) a Caxito. São apenas duas faixas de rodagem, uma em cada sentido, que não facilitam as ultrapassagens aos inúmeros camiões basculantes que trafegam, sem cessar, dia e noite.

Quem entra no mercado do Panguila confirma, através da montra de veículos acidentados, o grau de sinistralidade na EN 100, associado sempre a excessos de velocidade que, diga-se, muito se deve tambem à curta largura da via, fraca sinalizaçao, ausência de iluminaçao,  escapatórias e faixas para acostamento.

Inexistindo roseira espinhosa sem flor encantadora, gostamos de ver os investimentos em bananais, citrinos, videiras e em piscicultura que dão valor acrescentado à  terra e contribuem para a "nacionalizaçao do prato angolano", como defendia o cidadão Robert Adrien, frequentador assíduo do mercado do "Sassa".

Que tal alargar um pouco mais a EN 100, com mangas para acostamento e vias de serviço para paragens de táxis e autocarros? É apenas a sugestão de um leigo em mobilidade e segurança rodoviárias, mas apaixonado por estradas.

Num discurso trocista, o meu compadre Spina que com sua família foi também curtir Caxito, chegou mesmo a sugerir que "Bengo fosse uma província laboratório para estágio de governadores" ou seja, dizia ele, "tendo em conta o muito que têm de mudar e melhorar, partindo da sua capital, os governantes que se estreiam na gestão provincial deviam começar pelo Bengo, seguindo depois a outras províncias".

Quando o questionei sobre o porquê da sua tese, Spina, sem papas na língua, argumentou:

- Normalmente, o estagiário tem muitas ideias e precisa de terreno para as implementar. - Explicou.

Aqueles que conseguissem mudar algumas coisas no Bengo e Caxito ganhariam como promoção, no dizer dele, uma nomeação sucedânea para outra província mais evoluída.

E nao é que a ideia dele, surgida do nada, ganhou adeptos entre os que apreciavam o funje de carne de caça numa das barracas do mercado do "Sassa"?

- Esse camarada é mesmo um ideológo que devia ser convidado como assessor do Governo. - Afirmou Nhanga, ja meio desiquilibrado ante as elevadas doses de maluvu que ingerira, tentando desfazer-se de fibras de "Robert Adrien" (carne de macaco) que lhe ficaram presas entre os dentes.

Rober Adriens é o nome de um cidadão frequentador das barracas do Bengi e grande apreciador de carne de caça, com preferência à de macaco, e que os miúdos mais gozões do mercado de "Sassa" diziam aparentar feiçoes simiescas.

- Kota Roberto, esse janguto é de quê? - Questionavam em troça, ao que ele respondia e corrigia num sotaque meio afrancesado e arrastado.- Não me chamar kota Roberto. Eu chamar-se mister Robert Adrien e gosta comerr somente ndiba (funji) com carrna de prrimo (macaco). - Dizia de boca cheia, quase feliz, das várias vezes em que foi questionado.

E os rapazes do "Sassa" tanto gozavam com os consumidores de carne de caça, quanto com as cozinheiras dos manjares e com os caçadores de "Robert Adrien", alusão aos símios que são abatidos indiscriminadamente nas matas do Úkwa para pôr as panelas e os estômagos em actividade.

Numa brincadeira que se tornou extensiva, toda a carne de caça passou a designar-se "Robert Adrien".

- Mané, já escolheste o prato do dia?

- Claro: funje a "Robert Adrien"!


In: Semanário Angolense, 28.03.2015