Quando estudei a 5ª e 6ª classes, na escola
preparatória Kwame Nkrumah, em Kalulo, os meus
professores do II nível tinham apenas a 8ªclasse mas eram bons. Sabiam o que
transmitiam e faziam-no com convicção. Sentíamos que nos transmitiam coisas
novas e as retínhamos como úteis ao nosso desenvolvimento intelectual. Fazíamos
desafios entre colegas e assim alguns se destacavam entre os demais…
Com esse mesmo espírito e vocação, já a fazer a 7ª classe, na escola Ngola
Mbandi, em Luanda, eu dava aulas de superação às minhas sobrinhas Marisa Raquel
e Claudeth F. Bandeira. Dizem que minhas aulas eram tão boas que as vizinhas e amigas da
minha prima Teresinha (Mª de F. Ferreira Bandeira ) decidiram também levar seus
filhos à explicação. Tempo depois, o quintal dela, na rua 10 da Comissão do
Rangel, tornou-se pequeno.
Com o andar do tempo, , abri um pequeno negócio no
meu quintal (Comité Njinga. Rangel). Os meus sobrinhos (juntou-se o Ary às duas
meninas), todos sao hoje senhores, não pagavam e tinham o estatuto de "bolseiros".
Os demais faziam pagamentos simbólicos no final do mês, o que me permitia
comprar o giz e o meu material escolar.
É triste que hoje um individuo com o ensino médio
concluído tenha metade ou mesmo um quarto dos conhecimentos científicos e
cultura geral que alguns de nos tínhamos com a sexta classe em 1988.
Onde reside o problema?
Onde reside o problema?
Eis o que dizem os meus amigos do face book sobre o assunto:
Eduardo Cussendala: No
sistema de ensino, eu até hoje não entendo como é que um indivíduo que escreve
casa com Z chegou à faculdade. E, pior, é finalista.
Conheço pessoas que não sabem quanto é 10% de 100, mas têm o médio concluído…
Conheço pessoas que não sabem quanto é 10% de 100, mas têm o médio concluído…
Sebastião Neto: O nosso sistema
de ensino deixa muito a desejar. Queremos erradicar o analfabetismo às pressas.
Gustavo Silva: Conheço
licenciados que redigem textos medíocres. Têm uma caligrafia sofrível. Falam
num “linguajar” que atropela as normas básicas da língua veicular. Mal sabem
redigir uma carta a solicitar candidatura para um emprego. Para eles, não
interessa que se saiba ou não, que haja conhecimento, ciência. O importante é
que os familiares, amigos e arredores fiquem a saber que há diploma na área.
Sebastião António
Santos: Eu conheço alguém que se diz licenciado e ainda escreve cabeça com
dois SS (cabessa). Em vez do Ç na palavra Gonçalves, escreve Gonsalves. E há
muito ainda sobre gramática ou ortografia.
Victorino Tchikunda:
Caro Luciano, sabes que andamos nestas coisas de docência há já largos anos.
Tendo em conta a tua “divagação” pela educação, apraz-me escrever o seguinte: no
tempo em que estudávamos e os nossos professores tinham pouco nível académico,
mas eram sábios e dedicados, não existia muita alienação, muita televisão e
muita diversão. Hoje por hoje, “paga-se para passar e não estudam para
aprender". O resultado esta aí à vista de todos. Alunos universitários com
dificuldades em escrever e falar correctamente, dificuldade em abordar com
propriedade assuntos estudados na universidade... Junta-se a isto a falta de
leitura. Gosta-se mais de novela e outras coisas imediatas.
Emilio José Victoriano: Ausência da
trindade: pais, aluno e professor! Hoje, os pais já não se preocupam com o
aproveitamento e o comportamento dos filhos, indo de quando em vez à escola
onde o filho estuda e conversar com seus professores. Normalmente, só vão à escola
no final de cada trimestre para verem os resultados. Outros ainda ligam para os
professores ou vão ao encontro desses para negociarem as notas dos filhos.
Desse modo, o que se espera dos futuros ' quadros''?
Octávia Rosa Linda: Lembro-me, com saudades, que também dei aulas
no quintal da avo Filipa e tinha muitos alunos. Pagavam cada Kz 50 e ganhei
muito respeito dos miúdos que hoje são jovens, adulto e uns até já pais de família
que às vezes pedem que volte a dar aulas. Acho que a reforma (educativa) não
está a ajuda em nada. Há crianças na quarta classe que não sabem ler.
Carlos Canda: A valorização do estudo, na sua verdadeira essência,
está ser ofuscada pelo fenómeno “dar gasosa para transitar de classe”, porque o
mais importante hoje é mostrar o diploma. Há doutores sem que os mesmos tenham
dado “o litro” para tal graduação. As consequências do fenómeno corrupção no
ensino estão à vista. Ai, que saudades dos anos 80?!
Irlanda Salongue: É que há
professores actuais que só dão aulas por dinheiro. Leccionam cadeiras ou
disciplinas para as quais não possuem habilidades e conhecimentos. O quê que se
espera?
Francisco Jacucha: Eu
lembro aqui declarações de um padre dizendo que “desde que se fez o acordo com
o governo as escolas católicas começaram a fechar as portas”. É triste mas é
real. É aí onde devemos reflectir sobre o ensino hoje. Estou preocupado porque
tenho filhos que estão a estudar nesse tempo, todos sabem, todos dizem que o
ensino está mal, mas disso não passamos. Ainda tive a felicidade de aprender
com esses professores, sobretudo vocacionados para o ensino. É um prazer
ensinar...
Victoria Ferreira:
Cultivar o hábito de leitura desde a base é muito importante e isso começa na
família, em casa! Luciano
Canhanga, desde pequena a minha mãe comprava livros com gravuras bonitas e
muito coloridas. Depois comecei a frequentar a feira do livro, aí onde é hoje o
Parque Heróis de Chaves, na cidade alta. Comprava os livros da Heidi e outras
colecções de livros infantis. As revistas aos quadradinhos ajudaram-me muito: o
tio Patinhas, a Mónica e outros. É claro que nem sempre havia dinheiro para
comprá-los, por isso fazia troca com os meus colegas da escola. Nos livros de
aventura, policiais e dramas vivi grandes emoções, às vezes, mesmo na escuridão,
quando não havia energia, fingia que estava a ler a matéria da escola… tão
interessante e emocionante estava a leitura. Tive uma colega que fugia da
escola para ir à Miruí, uma livraria localizada no Kinaxixi. Por outro lado,
acho que os livros de leitura, naquela altura, traziam lições que despertavam
um grande interesse aos alunos, assim como a forma em que o professor fazia a
leitura. Os alunos mal chegavam à casa e já queriam exercitar o novo texto.
Quem não tem saudades dos Textos Africanos de Expressão Portuguesa que eram
destinados aos alunos da 7ª e 8ª classes? A leitura, sobretudo, ajuda na formação
intelectual das pessoas, por isso deve ser cultivada ao longo das nossas vidas!
Sem comentários:
Enviar um comentário