Não se lhe conhece outro nome senão Nanana. Era meu primo, nascido na década de 50 do séc. XX. Seu pai, também do Lubolu, veio cedo a Lwanda, acompanhado pelo filho primeiro, ainda infante, tendo a graça, embora iletrado, de ser tornar jardineiro de primeira classe do Banco Nacional de Angola. Nos anos 80, jardinava na casa do Governador do BNA e, quando pudesse, dava uma perna nos aposentos lwandenses de Sam Nujoma, a caminho do Palácio, onde recebia em troca alguma gorjeta e roupa de fardo que dividia com os familiares.
Nanana, de quem se desconhece o nome oficial e nem se sabe se alguma vez teve um bilhete de identidade, chegou ainda imaturo à grande capital, sem vícios. Porém, em vez de seguir o esforço do progenitor que augurava fazer dele um Grande Homem e os caminhos de outros meninos do seu tempo que amavam a escola e a igreja, cedo Nanana se tornou um dyamporô, inimizando-se com a escola, as profissões e os bons costumes, preferindo colocar-se à margem da sociedade.
Quando o conheci, nos anos 80, Nanana era um adulto medonho e desprezível, escória que envergonhava a família. Dizia-se que vivia entre as barrocas da Boavista e pescarias da Ilha de Lwanda com seus comparsas da Kangonya e kapuka.
Quando se fizesse à casa do pai Falela Nganga, ao Kaputu, era para impor terror aos que encontrasse e à madrasta Nzamba-a-Lumingu, que, temendo actos delituosos que a pudessem molestar, aliviava a despensa a favor do bandido-da família que, acto seguinte vendia os concorridos e raros géneros alimentícios na primeira esquina para, com o dinheiro arrecadado, ir entorpecer-se e ganhar coragem para outros actos de banditismo.
Sem tempo para se corrigir, mesmo recebendo conselhos como chuva d'Abril, morreu nos anos 90 como um cão-vadio, nas barrocas que sempre o acolheram a vida toda. Sem parentes por perto e sem glória.
Quando um dos consortes avisou a família sobre o seu perecimento, já haviam transcorrido semanas. O cadáver, sem identificação, teve de ser procurado de morgue em morgue e de gaveta em gaveta.
Infelizmente, ainda vejo em muitas famílias alguns adolescentes e jovens desse tempo, cujos pais se esforçam árdua e tenazmente em dar-lhes boas escolas, saúde e mantimentos, a seguirem as peugadas do meu primo Nanana. É tempo de pararem, beliscarem-se e redefinir o caminho. Nada ainda está definitivamente perdido, desde que reconheçam estar na rota errada e recomeçar. A Bíblia Cristã diz que Paulo (Saulo), o apóstolo e fervoroso missionário itinerante, participou, ad initio, no apedrejamento de Estêvão que fora discípulo de Jesus (Actos 8: 1-3). Usando, porém, a razão, Paulo arrepende-se e tornou-se num dos pregadores e propagadores mais respeitados do cristianismo.
É para esses jovens de hoje, cujas condutas deixam os pais em desalento e rios de lágrimas, que anelo fazer chegar a triste estória do meu primo Nanana que deitou ralo abaixo tudo quanto o seu pai procurou construir e dar-lhe de mão-beijada.