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segunda-feira, abril 20, 2020

A LAGOA DE TEREMBEMBE

Gosto de apreciar a lagoa (inicialmente natural) e aproveitada para destino das águas pluviais e da macrodrenagem da Cidade de Viana. A sete metros de altura, a partir do meu terraço, a lagoa e sua cercania parecem, a olho despreocupado, um manto de capim verde e vida aquática por baixo, destacando-se tilápia e bagre. Podia ser um encanto, mas não é, pois a pensar na sua evolução histórica o alerta bate.

O jornalista Luis Carlos Fernandes Lousada  descreve Terembembe da sua infância:
"A lagoa de Terembembe, da minha infância, ficava no mato, aquela área de Viana (entre o motel Montes Claros e a Comarca) já se podia chamar mato.  
Ao seu redor havia muitos gingongonos que são uns frutos silvestres que, quando estão maduros, têm a cor das uvas. São muito doces e quando os retiras do arbusto (com espinhos) este deita um líquido da cor de leite. 
A lagoa só ficava cheia nas grandes chuvadas (de Abril). Ficava tudo lavado e, de repente, apareciam milhares de sapos a coaxar.  Também chegavam os pássaros e até os patos bravos. É nesse tempo que aparecem os pássaros, sipaios amarelo e preto que pousam nos papiros que crescem  na margem da lagoa, os cardeais de 12 rabos de cor negra, com umas manchas amarelas perto das suas 12 penas que formam a cauda e os bengalinhas amarelo. Na borda da lagoa havia sempre vestígios de se terem feito as chamadas mesa da kianda. Todas estas lagoas têm a sua sereia e os cultores da kianda: metem toalhas com pratos e comida.
Nós só víamos os vestígios dos pratos partidos e alguns utensílios de cozinha. É o tempo mais bonito porque o capim e as kissassas (folhas) estão todas lavadas e o seu verde resplandece ao sol.
Na lagoa de Terembembe até tartarugas havia e, às vezes, apareciam as cobras ( jiboias) que metiam medo e mesmo as cuspideiras, de uma cor negro azulada. Quando eu e o meu irmão Zeca tomávamos banho, depois da chuva, com a lagoa cheia, a água ficava muito limpa, às vezes tínhamos que retirar os sanguessugas que se colavam às pernas. 
Era o tempo bom para a caça com fisga e com uma pressão de ar que tínhamos, ficávamos debaixo das mubangas à espera dos rabo-de-junco, das rolas e dos pimplaus. Foi o melhor tempo da minha vida.
Mas a lagoa é ainda muito mais do que isso! Antigamente, em Viana, as pessoas bebiam a água das lagoas/cacimbas que era filtrada pela pedra de Sanga...".
Hoje, poucos conhecem o nome da lagoa e nem está escrito o seu passado. O que se vê e se vai sabendo é que Terembembe vai recebendo, sem cessar, a água repleta de imundície que Viana inteira lhe dá. Já não aquela água limpa. É assim, dias sim, meses também. Sem outro destino para as descargas pluviais e águas residuais colhidas pelas sargetas, seria bom se fosse conferida maior profundidade à lagoa, bermas e "braços" pavimentados e uma utilidade ´lúdico-turística. Deixaria de ser uma simples entrada de água e lixos sem fim e os mais velhos do tempo do Lousada reviveriam as estórias que só Terembembe e uns poucos como o Lousada conservam.

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