O frio de kasimbu (cacimbo) e o vento oeste-leste a quebrar o capim denso da savana e a recolher as folhas secas dos arbustos faziam, naquela manha de sol envergonhado, as pessoas se "amontoarem em grupinhos para se emprestarem calor. Alguns homens, sobretudo os fumadores, encontravam no cigarro autênticos elevadores térmicos. As mulheres sem samarras ou casacos elevavam acima das vestimentas os panos que, normalmente, usam como reserva facilitadora para manobras de satisfação de necessidades fisiológicas em terrenos sem os necessários lavabos.
Nas casas de "ciwnda", nos bairros da cidade e nas repartições publicas ou das poucas empresas privadas o ambiente friorento e de aproximação, quase que íntima, entre as pessoas, indistintamente do sexo, era o mesmo.
No aeroporto Deolinda Rodrigues, a conversa entre Lawa, Lamba e Walya, colegas de serviços distintos, era sobre pessoas que se instalavam na cidade fundada por Henrique Carvalho, sobre os emigrantes e sobre aqueles que, sendo "akwakwiza", findavam as suas missões de serviço àquela terra.
- Mwata Kamanga kaneza. - Disse Walya.
(O senhor Kamanga está a chegar)
- Sério? - Perguntou Lamba, quase admirada pelo que ouvira da amiga, pois o dito cujo era conhecido de ambas e se fazia ausente do seu convívio havia perto de cinco anos.
- Yá. Lhe vi mesmo com aquele chapéu dele que tem marca dele de fumar cachimbo.
- Mas veio, então pra voltar de novo e ficar ou veio só de visita?
A conversa entre Walya e Lamba ganhou o apimento de Lawa que entre elas fora a mais próxima do dito cujo com quem partilhava experiência profissional.
- Vocês sabiam que há vulamisa que actua de imediato, outro que faz um ano e ainda o que actua só depois de cinco? Há quanto tempo o mwata Kamanga deixou Sawlimbu? - Questionou Lamba às amigas.
- Quatro ou cinco anos. - Respondeu Lamba.
- Viram a kamala dele? Pessoa que viaja e que não tem mais casa aqui vem assim, só kamalita de mão? - Atirou novamente, provocadora, Walya.
- Também estou a achar um pouco estranho. Retorquiu Lamba Lyeza, acompanhada gestualmente por Walya.
- Pois é. Apontem só nos vossos corações. - Acresceu Lawa. - Assim mesmo que veio com essa kamalita é para ficar. Homem que lhe dão vulamisa de 5 anos, manda já comprar as coisas, e quando vem de volta ao sitio em que lhe amarraram o coração é tipo rapaz que sai de casa para ir jogar à bola. É só quedes nos pés e mais nada. Controlem agora em que casa vai entrar.
Lamba Lyeza e Walya Zoloka ficaram ainda a pensar no alcance da última tirada da amiga dos serviços de informação enquanto essa,
cultora de conversas cabeludas, montou a sua mota-rápida, fazendo-se à cidade para seguir a viatura que transportava o tão famoso mwata. Pelo trajecto, Lawa ia anunciando às outras amigas, via sms, a notícia do dia.
- Mwata Kamanga kaneza. Lhe deram vulamisa de cinco anos. Lhe controlem onde vai entrar!
Nas casas de "ciwnda", nos bairros da cidade e nas repartições publicas ou das poucas empresas privadas o ambiente friorento e de aproximação, quase que íntima, entre as pessoas, indistintamente do sexo, era o mesmo.
No aeroporto Deolinda Rodrigues, a conversa entre Lawa, Lamba e Walya, colegas de serviços distintos, era sobre pessoas que se instalavam na cidade fundada por Henrique Carvalho, sobre os emigrantes e sobre aqueles que, sendo "akwakwiza", findavam as suas missões de serviço àquela terra.
- Mwata Kamanga kaneza. - Disse Walya.
(O senhor Kamanga está a chegar)
- Sério? - Perguntou Lamba, quase admirada pelo que ouvira da amiga, pois o dito cujo era conhecido de ambas e se fazia ausente do seu convívio havia perto de cinco anos.
- Yá. Lhe vi mesmo com aquele chapéu dele que tem marca dele de fumar cachimbo.
- Mas veio, então pra voltar de novo e ficar ou veio só de visita?
A conversa entre Walya e Lamba ganhou o apimento de Lawa que entre elas fora a mais próxima do dito cujo com quem partilhava experiência profissional.
- Vocês sabiam que há vulamisa que actua de imediato, outro que faz um ano e ainda o que actua só depois de cinco? Há quanto tempo o mwata Kamanga deixou Sawlimbu? - Questionou Lamba às amigas.
- Quatro ou cinco anos. - Respondeu Lamba.
- Viram a kamala dele? Pessoa que viaja e que não tem mais casa aqui vem assim, só kamalita de mão? - Atirou novamente, provocadora, Walya.
- Também estou a achar um pouco estranho. Retorquiu Lamba Lyeza, acompanhada gestualmente por Walya.
- Pois é. Apontem só nos vossos corações. - Acresceu Lawa. - Assim mesmo que veio com essa kamalita é para ficar. Homem que lhe dão vulamisa de 5 anos, manda já comprar as coisas, e quando vem de volta ao sitio em que lhe amarraram o coração é tipo rapaz que sai de casa para ir jogar à bola. É só quedes nos pés e mais nada. Controlem agora em que casa vai entrar.
Lamba Lyeza e Walya Zoloka ficaram ainda a pensar no alcance da última tirada da amiga dos serviços de informação enquanto essa,
cultora de conversas cabeludas, montou a sua mota-rápida, fazendo-se à cidade para seguir a viatura que transportava o tão famoso mwata. Pelo trajecto, Lawa ia anunciando às outras amigas, via sms, a notícia do dia.
- Mwata Kamanga kaneza. Lhe deram vulamisa de cinco anos. Lhe controlem onde vai entrar!
Notas:
. Vulama ou vulamisa é a expressão atribuída, no nordeste angolano, a supostos remédios que, uma vez administrados por uma concubina a um forasteiro, fazem-no esquecer a procedência e família.
. Vulama ou vulamisa é a expressão atribuída, no nordeste angolano, a supostos remédios que, uma vez administrados por uma concubina a um forasteiro, fazem-no esquecer a procedência e família.
. Ciwnda=aldeia rural; akwakwiza=forasteiros; mwata=senhor; kamala/kamalita=diminutivo de mala.
. Qualquer semelhança com facto ou nome real é, neste caso, mera coincidência.
Publicado pelo Jornal de Angola de 16.06.19
Publicado pelo Jornal de Angola de 16.06.19
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