Translate (tradução)

domingo, setembro 08, 2019

PERMISSÕES E PROIBIÇÕES DE KATUTURA

Se a Chicala, no istmo de Luanda, é conhecida e recomendada pelo sabor que as senhoras dão ao peixe que confeccionam, o Oshetu Community Market de Katutura é famoso, sobretudo entre angolanos, pelo sabor da carne fresca e tenrinha que por lá é assada com esmero e alguma magia. Quando descrevi os ningoçus na Chicala, averbei que se a venda de peixe era um negócio formal, já os serviços e produtos suplementares oferecidos à volta eram inform...ais, não pagando nenhuma taxa ao Estado/Administração Local.
Aqui, em Oshetu de Katutura, não!
Tudo é formal. Desde os fornecedores de lenha aos assadores de carne, da tia que vende pirão de massango/massambala (note-se que carne e pirão são vendidos à parte e por pessoas distintas, assim como o molho de tomate e cebola) ao jovem que faz molho para aligeirar a deglutição, a/o fornecedor de tomate e cebola, etc. E o administrador da legalidade foi mais longe. Separou os serviços em lados diferentes: electrodomésticos, alfaiataria, fotos e impressão, cereais, peixe miúdo das chanas, katatu e, como era de esperar, a fuba acomodada em bacias escondidas em sacos de plástico transparente. Até da gosto. É diferente da banda onde a poeira arrastada pelos ventos de todas as lixeiras se junta à fuba que enche o estômago na hora da janta. Aqui, há preocupação máxima com a saúde e com a urbanidade. Álcool, por exemplo, no entry.
Um jovem, primeira vez a se dirigir à Katutura, sabendo que encontraria bons nacos, decidiu levar as suas birritas frescas para enfrentar os 38° graus de temperatura e abafar a fome e a sede que estavam a braçadas.
- Álcool no entry. - Disseram-lhe os seguranças, à entrada.
- O quê? Achas mesmo que vou pitar sem xupar, com esse calor todo?
- You can go, but without alcool drink. - Retorquiu o segurança-chefe, sempre calmo e a contrastar com a agitação do neófito mwangolê que já se prestava a usar a razão da força em vez da força da razão.
Chegou outro mwangolê, já cacimbado em frequentar aquele recinto e conhecedor das leis namibianas. Abeirou-se dele e, como quem acalma um nenê enfurecido, pegou-lhe o ombro e disse-lhe:
_ Conterra, olha só para essa barba e esse cabelo branco. Quando vim para cá eles ainda não eram independentes. É o respeito das leis que me faz desconhecer a cadeia. Lê a placa e pede desculpas, antes que a polícia chegue e acabemos todos rotulados.
O jovem levantou os olhos e, minuto depois, baixou a crista.
- Sorry my brother. Não sabia. Vou pegar take away e beber noutro lugar!

Publicado pelo Jornal de angola, 17.02.19

Sem comentários: