Quando somos dos últimos a falar, ou acertamos, completando o que não foi ainda dito, ou corremos o risco de ser redundante que deve ser a figura em que mais me enquadro. Porém, é também sabido que "o que ambunda não prejudica".
Senhoras e Senhores,
Excelências
É com grande honra que subo a esse
palanque para uma missão difícil que é a de tentar apresentar o segundo volume
da Obra Retratos do Libolo, inserida
no "Projeto Libolo". Na verdade a obra já foi apresentada pelos autores e tudo o
que farei será apontar alguns tópicos para aguçar a curiosidade de quem quem o vai
ler.
Mais difícil ainda se torna a minha
missão, por secundar uma figura incontornável da nossa literatura e intelectualidade
libolense e nacional, o escritor Jaques Arlindo dos Santos.
Relutante, mas honrado, acedi ao
convite e ao desafio, pois sou filho dessa terra e por ela também me tenho
esforçado em dar-lhe a visibilidade e o conhecimento que merece na esfera
nacional e internacional.
Carlos Filipe Guimarães Figueiredo é
um amigo que a Ciência e as redes sociais me apresentaram. O Libolo, nossa
terra, é apenas o ponto de partida e de chegada.
Imaginem, prezadas Senhoras e
Senhores, ele em Macau ou Brasil e eu num distante Catoca, Lunda Sul, onde
prestava Serviço.
A abordagem de temas comuns sobre a
angolanidade e o nosso Libolo fez-nos próximos e aqui estamos.
Em Retratos do Libolo, Carlos Figueiredo que de forma destemida e
desapaixonada (¿) palmilhou o território que se encontra entre os rios Luinga,
Longa e Kwanza bem como a Estrada Nacional 120, apresenta-nos aspectos como a
Geografia, o relevo a Hidrografia e seus
recursos, o clima, o solo, a fauna e a flora, o café do Libolo, e até insectos
típicos.
No livro, encontramos ainda aspectos sociológicos,
e históricos. Foi bom ler, por exemplo, que os nossos ancestrais foram os
últimos a ser vencidos (mas não convencidos) pelos colonizadores. E já ia a
findar a I Guerra Mundial.
As comunas de Kalulu, Kabuta, Munenga
e Kisongu bem como as suas principais aldeias foram todas descritas e fotografadas constituindo-se esse livro num
documento de elevada importância histórica, social, antropológica e cultural.
-
Haverá em Angola, nosso país, uma região, um município que tenha merecido tão
detalhada radiografia?
Os meus conhecimentos, até agora,
dizem que não.
E, ainda bem que somos os primeiros,
pois sempre estivemos na fila de frente. Na resistência à ocupação colonial, no
desenvolvimento das forças produtivas, na luta pela independência e agora na
busca do conhecimento e valorização da Nossa Terra.
-
Quem de entre vós conhece a Pedra Escrita de Kasala-Sala, com registo histórico, e outra que fica entre
a Munenga e Lususu?
-
Quem já visitou Kituma, Kuteka, Kabuta, Kitila, Kambaw, Kakulu-Kabasa, a Missão
Católica e seu internato e a nossa Fortaleza da Liberdade?
Kalulenses, Libolenses, Kwanza-Sulinos,
Angolanos e porque não os nossos amigos brasileiros que nos ajudam a conhecer o
Libolo?!
O Libolo hoje é manchete na media
nacional e internacional por causa do Clube Recreativo do Libolo, o que nos orgulha.
Porém, há muito mais Libolo para a além do Desporto. Há um carnaval histórico.
Há arte e imaginação. Há muluvu no Musende, Wala de Muxiri no Kisongu e carne
de paca no Mukongu. Em todo o Libolo há um Kimbundu que flui e ritos de passagem
para os rapazes. Há caçadas, há namoro,
o mesmo namoro que encantou Viriato da Cruz na sua carta em papel perfumado... Há casamentos e há divórcios também.
Divórcio com o pensamento arcaico e despido de verdade científica.
Excelências,
Tudo o que vos disse não representa
sequer um milésimo do que a obra nos proporciona, sendo que o melhor mesmo é adquiri-la e, com ela,
imergir no tempo, nas comunidades, no
chilrear das aves e farfalhar dos matagais.
Eventualmente
alguém me pergunte:
-
Será que estamos perante uma Bela sem senão?
Aqui,
a minha resposta é peremptória: A minha sensibilidade artística e científica
não consegue encontrar espinhos entre a Rosa que me foi dada a ler e a apresentar.
-
É um trabalho de todo acabado?
A
História, a cultura, as artes e tudo mais que envolvem um povo como o nosso,
não se esgotam em dois livros. Os jovens nas suas aventuras e trabalhos
académicos, os cientistas sociais do Libolo, no Libolo e na sua diáspora, os
intelectuais de outros países como os amigos académicos brasileiro e macaenses
que já vêm desvendando o Libolo, devem dar sequência. Devem complementar esses
estudos que, repito, são de
incomensurável valia e relevância.
Permitam-me
fazer uma vênia aos patrocinadores cuja aposta propiciou o arranque deste
Projecto. A eles se agradece e se pede coragem e continuidade de apoios para
que tenhamos mais e melhores conhecimentos sobre o Libolo. Quem sabe, agora
mapear e descrever os locais de interesse turístico e outros locais históricos?
E, despeço-me com uma breve que li
recentemente, do meu amigo e também Lubolu-descendente, Drumond Jaime: “Enquanto mais conhecemos a Nossa Terra,
maior é o orgulho de a Ela pertencermos”.
Muito obrigado pela vossa atenção.
Soberano Canhanga
Kalulu, Lubolu, 10.07.2016