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quinta-feira, janeiro 23, 2014

KWANZA-SUL OU CUANZA-SUL?

Em conversa no chat do face book, o meu amigo Isidoro Natalício colocou-me a questão da grafia dos nomes de origem bantu (topónimos e antropónimos). Referia-se o amigo Isidoro que a TPA tem-nos escrito de forma diferente àquela que eu uso na grafia dos "nossos" nomes.
 
Tendo em conta a importância do assunto, ainda que o debate e as conclusões sejam superficiais, julguei oportuno partilhar as ideias que defendi nesta página que é menos volátil ao tempo.
 
1º - Os topónimos obedecem, para além da atribuição da designação, a um registo. Esse registo é válido até que o topónimo mude de designação ou se corrija a grafia. Para exemplificar, devo dizer que nos cadastros, a província angolana a sul do rio Kwanza está registada "erroneamente" como "Cuanza-Sul" em vez do que seria expectável, Kwanza-Sul. O mesmo se pode aplicar ao meu nome, Canhanga, que devia grafar-se Kanyanga para obedecer ao alfabeto convencionado pelo CICIBA (Centro de Investigação das Civilizações Bantu), combinado com a Resolução 3/87 de 23 de Maio, do Conselho da Revolução. 
 
2º - As regras do CICIBA para a ortografia das línguas bantu diz que a letra C tem o fonema equivalente ao dígrafo Tx e ainda pelos grupos consonânticos TCH e TSH. Exemplos: Cikala-Cyolohanga, Cindjendje, Citembu, Civingiru, Citende Cya Zango, Cipalavela, etc.

Sempre que as vogais I e U estejam  junto de outras, as primeiras devem mudar para Y e W. Exemplo: "muanha" (sol) deve grafar-se correctamente "mwanha); "diniangua" (abóbora) deve grafar-se "dinyangwa"; "kizua"=kizwa, etc. 

Para obtermos o fonema equivalente em Português a "C" devemos grafar "K". Kanhanga, Kambundi-Katembu, Kalulu, Kahála.
 
Não sou telespectador atento da TPA e não sei dizer se grafam de acordo aos registos portugueses ou se de acordo ao alfabeto das língua bantu. De uma coisa, porém, tenho certeza: É preciso corrigir urgentemente os registos dos nossos topónimos (calculo que o MAT- Ministério da Administração do Território-  tenha já um projecto nesse sentido) e passar-se a exigir que haja uma grafia correcta dos topónimos de origem bantu.

Não se pode aceitar que a nossa moeda seja Kwanza e o rio que lhe dá o nome ainda se designe Cuanza. O que se passa hoje é que não há rigor. Cada escreve como bem entende. Eu que sou adepto da grafia segundo a originalidade dos nomes, tenho grafado como será no futuro. Para o presente, pode ser que alguém considere o meu procedimento errado.

Obs: 
A 30.01.2014 tive acesso ao documento "Divisão Política Administrativa e Topínímia de Angola", elaborado pela Direcção Nacional de Organização do Território. O mesmo retoma apenas os "baptismos" coloniais e não propõe alterações à redação dos topónimos de origem bantu.

Vim ainda a saber, de um amigo internauta (comentários ao artigo publicado no Club-K), que o MAT remeteu essa lista aos Órgãos de Comunicação Social, públicos e privados que, de imediato, passaram a grafar os topónimos angolanos segundo os cadastros coloniais.
A título de exemplo, a minha circunscrição natal, Munenga, é condificada como:
      AOCS070602
-Munenga
 

4 comentários:

Edson Macedo disse...

Meu caro. Infelizmente tem havido sim essa situação que para mim tem requintes de estupidez e de burrice. Vi na TPA, no Bom Dia Angola, escrito Cuando Cubango ao em vez do nosso e heróico KK.
É triste mas creio ser apenas e só uma questão de burrice de quem escreve e de ausência de quem manda.
Estamos a perder os nossos valores e pronto... Ninguém diz nada porque estamos maravilhados com as 7 maravilhas de Angola quando até elas aparece com grafia errada.
Haja vergonha na cara...

Soberano Kanyanga disse...

Já lá vão 39 anos de República de Angola. Temos que chamar de volta os portugueses para nos ensinarem a escrever os nossos nomes ou corrigir os nomes que eles registaram mal?

Fernando Ribeiro disse...

Prezado Canhanga, a respeito da palavra kizua (dia), não se deveria escrever kizuwa em vez de kizwa?

Soberano Kanyanga disse...

Amigo Fernando Ribeiro,
Os meus conhecimentos sobre Kimbundu ainda são para "consumo interno" e não disponho de elementos suficientes para explicar ao pormenor questões de combinação entre grafia e fonética. Mas vou dar-lhe simplesmente o meu assentimento.
A combinação "UWA" que sugere ou pergunta acontece quando há prolongamento da vogal. O que não me parece haver na palavra kizwa.
O Dr. Vatomene Kukanda, que andou no CICIBA, e outros linguistas bantu podem esclarecer melhor. De momento, tenho-me regido por essas regras simples.
Um abraço e volte sempre.