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terça-feira, outubro 23, 2012

A ESTRADA, OS PNEUS E O FERRO VELHO

Se não fossem os pneumáticos do carro que estavam “tesos” de tanta pressão, saltitando na estrada rugosa, a viagem lhe teria corrido à feição. A conversa entre ele e o carro corria bem.

Estrada Nac. 180:Saurimo-Malanje

Veículo  e dono conhecem-se um ao outro. O engenho mecânico parece saber quando é que ele está bem disposto e quer imprimir velocidade à passada e quando é que quer estar numa  passada de ir ao óbito. Já se relacionam há quase ano e meio.

Porém, naquela viagem, as coisas estavam diferentes. Verificando ele que os pneumáticos estavam carecas e sem aderência, preferiu trocá-los antes de se fazer à estrada. Teria de percorrer, ida e volta, mais de mil e duzentos quilómetros e queria fazê-lo com um mínimo de incómodos. Entretanto, o barómetro traiu o homem da recauchutagem e os novos pneus em vez de voltarem macios e próprios para o asfalto, vieram gordos.

Isso mesmo. Gordos. Pareciam uma jibóia repleta. Estavam também sem aderência, porque a camada que entrava em contacto com o asfalto era tão ínfima. Pior ainda, porque a estrada tinha zonas com “costelas de búfalo” que obrigavam os pneus a grandes pulos. Já imaginou o saltar de uma bola excessivamente cheia?

– Pois, assim estavam os pneus da Toyota Hilux. Vezes sem conta sentiu-a a fugir-lhe das mãos em direcção às árvores ou aos precipícios que abundam naquele percurso.

E foi num destes “saltos de coração”, quando o nosso sistema de alerta interno assinala o perigo, que começou a reflectir sobre a melhor maneira de chegarem completos ao destino: abraçou o máximo que pôde o volante para que não mais lhe fugisse por completo das mãos e decidiu também premir o acelerador em função das condições da estrada.

Daí em diante, a conversa com o motor e consigo mesmo foi sobre os cemitérios de carros ao longo da rodovia e sobre o aproveitamento que ainda não se deu ao ferro velho.

Pensou nas vantagens que a floresta densa teve na luta para a independência do país contra os portugueses e nas desvantagens que a mesma floresta proporcionou às forças governamentais que combatiam a insurreição armada de 1975 a 2002.

Pensou igualmente na ”técnica” militar, às centenas, que ficou pelo caminho, sem ter chegado ao destino, nas colunas de abastecimento civil que foram dizimadas pelo fogo inimigo ou amigo, nos milhares de homens mortos nas refregas, uns com campas e outros a fazer companhia às carcaças de carros, blindados e tanques de guerra, contentores, chassis e tantos outros fantasmas abandonados ao longo das estradas.

Pensou também na imprudência e imperícia de alguns condutores que vêm engrossar, nos últimos tempos, a quantidade de ferro retorcido nos dois lados da estrada, e concluiu:

- Nem eu nem o veículo que dirijo faremos parte desta cena de “caminhos encurtados”, disse aos ventos.

Mas não foi tudo. Reparou profundamente para nas pontes reabilitadas e outras por reabilitar. Verificou  que à passagem dos mais caudalosos rios havia sempre, no passado, dois ou mais guardas temidos pela sua força destruidora. Tinham sido colocados nas duas extremidades da ponte para impedir que os homens dos blocos de TNT as deitassem abaixo. Mas o que a realidade mostra hoje é que ou os guardas foram caçados ou, com o surgimento da paz, os guardas blindados foram pura e simplesmente abandonados pelos antigos donos, até à chegada do fogo e dos caçadores de qualquer coisa, dando cabo dos TANQUES DE GUERRA  que estavam ainda intactos junto as pontes.

Sempre atento à conversa do motor, ao divórcio dos pneus demasiadamente repletos de ar e à estrada rugosa, foi pensando também no que se podia fazer para apagar as imagens tristes da guerra que ainda contam estórias pelo caminho.

- Muito ferro-velho! - Exclamou.

- Que tal se todos os “sucateiros” que inundam Luanda se fizessem às estradas e recolhessem tudo que está a mais?

Fariam um óptimo serviço à Nação!

quinta-feira, outubro 18, 2012

PAZ IMPERA NO LUENA

Este (o da foto) é o monumento da paz erguido na cidade do Luena. Aí está, imponente, mostrando a pujança de que se reveste e deve ser a Nossa Paz conseguida com muito sangue e elevado espírito de tolerância.
 
No mesmo espaço (largo), não muito distanciados, repousa também um MIG (avião de guerra) para mostrar o que antecedeu à celebração da Paz definitiva para os angolanos.

Assim se faz a História recente de Angola.

domingo, outubro 14, 2012

CRIANÇAS DA LUNDA SUL "TRANSFORMAM" MÁQUINAS DE GUERRA EM BRINQUEDOS


LCanhanga 26.09.2012
Mortíferas máquinas de guerra no passado, abandonadas à sua sorte, depois de missão cumprida ou fracassada, ei-las agora feitas brinquedo para crianças que nelas ensaiam sonhos de menino.
 
Sonhos de artistas nos filmes de acção de Holyhood. Sonham Arnold, Van-Dame, Spencer e outros actores do mundo do cinema.

"Transformar espadas em arado" eis a recomendação da bíblica.
Transformar o ferro retorcido e abandonado da guerra do passado em enxadas e catanas para o cultivo da terra é o que se espera destes monstros.

A foto foi tirada na estrada 180, a meio caminho entre Saurimo e Luena.

quinta-feira, outubro 11, 2012

LAMBA LYEZA: NOS TRICICLOS

Os meus filhos chamam as motorizadas triciclos por "avó chegou" em alusão a minha mãe que os aluga quando vem do campo para levar os "kibutos" para os netinhos.
Contabilizados 15 passageiros
 
Na Lunda Sul são conhecidos por "tá maluca" devido ao andar saltitante que põe os passageiros em "chinguilos", como que possuídos de espíritos doutro mundo.
 
Adquirir uma dessas motorizadas é para muitos sinínimo de elagria. São uma boa fonte de arrecadação. São capazes de transportar 600 Kg, segundo o fabricante, mas por cá (Lunda Sul) chegam a levar uma tonelada de peso. Zango Lyeza (alegria chegou): dizem os familiares dos que entram na lista dos possuidores de "tá malukas ou Nafa cyame" (minha morte(, como são também apelidados pelas população.
 
Porém, quando o objecto para o qual foram fabricadas não é cumprido, como o transporte de passageiros, e com excesso de lotação, a expressão vem ser outra: lamba lyeza (a tristeza/preocupação chegou).

E não têm sido poucos os motivos para tristezas causados pelos condutpres destes veículos automóveis, com o registo, duma só vez de 15 mortes num acidente. Todos os dias vêm-se imagens como esta nas estradas da Lunda Sul. A polícia está aí apenas para ver, esquecendo-se da sua função preventiva.

Sei que aqueles que transportam e se fazem transportar nestes triciclos e de forma perigosa, fazem-no por carência de meios. Também sei que não há moral que resista ao estómago vazio, mas a segurança das pessoas deve estar acima de tudo!
Depois não venham a lamentar "lamba lyeza"!

segunda-feira, outubro 08, 2012

MORTAL OU AFECTIVO? Abraço entre ATLÂNTICO e KWANZA

Aqui (onde o Atlântico passa e o Kwanza termina), o mar abraça o rio, criam um micro-clima e dão ao olho humano um ambiente agradável e indiscritível. Só vivendo!

É pena que o turismo em Angola ainda esteja por acontecer!

sábado, outubro 06, 2012

A FELICIDADE ESTÁ NA POUPANÇA E NO USO RACIONAL

A História colonial não foi boa para todo o país, muito menos para a região Leste que foi prejudicada em termos de construção quantitativa e qualitativa de equipamentos sociais públicos.

Tudo o que o Governo faz, nos últimos dez anos de paz efectiva, tem sido a reconstrução do parco parque infra-estrutural e a construção de novos equipamentos, como estradas, pontes, escolas, hospitais, estações de captação de água, centrais hidroeléctricas e termoeléctricas, entre outros.
Se a poupança e a utilização racional dos equipamentos é aqui chamada para permitir que o ainda pouco chegue para todos, é de suma importância que se preserve aquilo que ganhámos.
Que as portas e janelas das nossas escolas e hospitais não sejam quebradas. Que as estradas e pontes não sejam destruídos.
Que os utilizadores não habituados com os novos serviços sejam educados a usá-los de forma responsável…
Que se valorize a coisa pública como se de nossa se tratasse. Aliás, é nossa, e ninguém por vontade própria destrói aquilo que lhe custou conseguir!
Neste exercício, insto também as populações rurais que devido aos conflitos vividos pelo país tiveram de encontrar refúgio nas cidades, que enfrentam ainda o problema da adaptação ao modo urbano, nunca é demais aprender com os outros. Circular nas estradas exige conhecer as normas. Ajudemos a polícia!
Aqueles que vivem dos pequenos negócios para sobreviver não têm de vender no meio das ruas e nos passeios, perigando a vida dos outros e as suas próprias vidas. Em todo lado onde as pessoas vivam em sociedade/comunidade, seja no campo ou na cidade, há regras.
Os comerciantes, devem ter depósitos apropriados para o lixo. Os moradores/munícipes devem depositar os resíduos em locais apropriados para que aqueles a quem foi confiada a missão de manter a higiene das cidade tenham a vida facilitada. Os cidadãos, sejam eles crianças, jovens ou idosos, não devem jogar o lixo em locais inapropriados.

A casa mais limpa não é aquela que mais se varre. É a que menos se suja. Por isso, nada de jogar papéis, latas de refrigerantes e outros objectos em via pública ou debaixo dos prédios.
Vamos colaborar e fazer das nossas cidades e do nosso país locais ideais para se viver com sanidade.
Bem haja!


quinta-feira, outubro 04, 2012

Quedas de Chyumbwe-Dala: um potencial turístico por explorar

Esta beleza rara pode ser vista no percurso Saurimo-Luena, concretamente na vila de Dala.
Tratam-se das quedas de Chyumbwe onde, pelos vestígios encontrados, me parece que os portugueses pretendiam construir uma barragem ou algo parecido.
São agradáveis de ver e levam-nos sempre a fazer uma paragem para relaxar e descontrair os músculos, depois de uma "luta renhida" contra os buracos que ainda abundam na estrada.
Felizmente, um visionário empreendedor (que ainda não descobri a identidade) está a construir um "magestoso" centro turístico-hoteleiro, a bem da localidade, do turismo rural e dos que se fazem à estrada.
Bem haja!

segunda-feira, outubro 01, 2012

INDICADOS DIZEM "SIM" A JES E TOMAM POSSE PARA GOVERNO

Tal como eu previa, ninguém disse não ao Presidente José Eduardo dos Santos, que anunciou uma lista indicativa, na última sexta-feira, para consultas aos indicados para Ministros e Governadores provinciais.
Todos disseram sim e, assim, os Ministros de Estado, Ministros e Governadores provinciais tomam posse hoje, 01.10.2012, para um Governo de 5 anos que se estenderá até às eleições de 2017.
A nota que desperta a atenção é que desta vez José Eduardo dos Santos indicou poucas mulheres para o seu (já longevo) governo, quando comparado com os números do anterior Executivo.
Segundo uma apreciação, bem feita pelo Drº. Agostinho dos Santos “Kimbito”, na sua página do Face book, de 35 Ministros apenas 8 são mulheres perfazendo 22,8%. Já ao nível dos Governos das províncias 16 são homens e apenas duas são senhoras que lideram a Lunda Sul e Cabinda.
 
Quanto aos nomes e suas posições anteriores, nada de novo. São pessoas já experimentadas na governação de JES que mudaram apenas de posições na “quadra de jogo”. Ou eram Ministros e mudaram de Ministério, ou eram Vice e passaram a titulares ou eram Directores nacionais e passaram a Ministro (Comunicação Social). Muitos mantiveram os seus postos.
Esse Terceiro Governo eleito (1992, 2008, 2012) é o primeiro de um presidente eleito, pois apenas agora, 37 anos depois da independência de Angola de Portugal é que Angola tem, de facto, um presidente sufragado pelo povo. JES, que ainda pode ser reeleito para um segundo mandato (segundo a constituição), está há 33 anos como presidente, cargo que ocupa desde os seus 37 anos.