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sábado, dezembro 31, 2011

A ENTREVISTA QUE NÃO ME FIZERAM

Para incentivar a participação de trabalhadores de Catoca e de familiares na habitual corrida de fim de ano, participei da mesma, tendo sido o último inscrito (nro 25), último na colocação de partida e último a chegar à meta.

Sr. Luciano Canhanga, apesar da idade (mais de 35 anos) e de ser PPD (pessoa portadora de deficiência) participou da corrida. Com que objectivos?
- A priori, anunciei a minha inscrição apenas para motivar os demais a participarem. Depois fiz para mim mesmo um desafio que era PARTICIPAR DA CORRIDA e chegar à meta pelos próprios pés, num percurso de12Km.

Atingiu os objectivos?
- Sim. Partir em 25º e chegar pelos próprios pés, ainda que na mesma posição, já foi muito bom. Pior seria usar a ambulância, o que não aconteceu.

Quanto aos prémios, que tem a dizer?
- Houve prémios para todos. Para trabalhadores, para visitantes, para crianças dos 10 aos 14 anos, para senhoras (infelizmente não houve participantes), para a velha-guarda, etc.

Disse que era PPD. Participou nesta categoria ou não estava prevista?
- A priori estava prevista esta categoria. Não se fizeram corridas diferentes nem trajectos diferentes. O primeiro deficiente a cortar a fita, fosse em que lugar, seria o vencedor da categoria. Mas fui o único e acharam que seria integrado na classe da velha guarda onde fui terceiro classificado. Por ter sido a única PPD tb deram-me uma pequena lembrança (já que não tive direito à taça).

Perspectiva para o próximo ano ou próxima corrida?
- Se ainda estiver aqui e tiver saúde vou preparar-me, o que não fiz desta vez, quero sair em 25º e chegar no mínimo em 20º lugar e ser 2º na categoria da velha guarda ou primeiro entre as PPD.

terça-feira, dezembro 20, 2011

A KABAZADA DE SAMA E A "DESGRAÇA" DO NHANY

Há muito que não debicava ideias sobre a vida político-partidária concreta.
1- Não resisti ao óbvio que era a vitória "contundente" de Samakuva na eleição a presidente da UNITA sobre Zé Pedro Katchiungo, por 85% do eleitorado (delegados ao congresso realizada no final se semana).

Katchiungo soube, entretanto, animar a festa e saber perder, o que já foi muito bom, demonstrando também com isso de que embora haja um "mando único" não há uma voz única do "maninho" Samakuva naquela formação política angolana, por sinal a maior da oposição ao regime.

2- Outra nota foi a substituição de Kamalata Nuna por Victorino Nhany na secretaria-geral do partido. Não estive muito atento ao que Numa terá feito de mais-valia em termos de arregimentação de mais prosélitos para o partido. Porém, tudo quanto a media mostrou e disse sobre o trabalho de Nhany à frente da delegação de Benguela é tido como de "boa nota". Daí que a UNITA pode perder um bom delegado em Bengula e ganhar um mau Secretário-Geral. Se Nhany poder levar a mesma dinâmica que teve em Benguela à secretaria-geral, acho que será bom para os "maninhos" que precisam de muitos Nhany´s para recuperar algum terreno há muito perdido.

quinta-feira, dezembro 15, 2011

A POLÍTICA SACRIFICA INOCENTES?

O Jogo do equilíbrio de interesses pressupões (leva às vezes) à satisfação de interesses de grupos maioritários e o sacrifício de individualidades/colectividades menos numerosas para a manutenção da ordem social reinante.

Numa contenda entre um individuo (ainda que coberto de razão) e um grupo, se o sacrifício do indivíduo propiciar a paz colectiva, a opção será o sacrifício e a reabilitação futura do sacrificado.

Assim vai, infelizmente a política.

sábado, dezembro 10, 2011

POR QUE JOVENS FORMADOS E TALENTOSOS SÃO PRECOCEMENTE REFORMADOS?

‎"O país tem, há demasiado tempo, as mesmas pessoas a fazerem as mesmas coisas.
Há que se inverter os acontecimentos: ou mudam as coisas ou mudam os protagonistas".
- Palavras de um líder associativo de Portugal (SIC-Notícias).
Qualquer semelhança do acima exposto com Angola é mera coincidência.

Angola tem uma velha-guarda guerreira, aguerrida e matreira quando se trata de defender os seus interesses clânicos e de classe (detentores do poder politico e económico), sufocando, como pode e sabe, tudo o que se afirme como novo paradigma (emergente).
 
Domesticar, envolver/comprometer/corromper ou mesmo reformar prococemente os mais renitentes em não aderir a
o seu modus operandi têm sido as tácticas mais recorrentes.
 
Daí a existência de jovens, e não são poucos, que já deram suficientes provas de conhecimento e bien fair que simplesmente foram/são colocados nas "prateleiras" da administração, enquanto outros, sem competências válidas, vão desfilando pelas avenidas, destilando discursos fúteis que apenas servem para entreter os menos avisados, chamando quase sempre ao endeusamento da velha-guarda.
 
O debate geracional, a luta paradigmática, só tem mu vencedor: aqueles que dominam. Os poucos jovens que vão entrando no círculo, cada vez mais restrito, vão à custa do Q.I. (quem te indicou) para substituir o pai, o avô, o tio, etc., ou para preencher, de forma clientelística, uma nova vaga criada no sistema. São jovens que já vão vacinados contra a mudança a fim de impedir a difusão de novas ideias, princípios e práticas, e desta forma permitir a tão propalada "mexicanização" da política angolana.
 
Até quando?

quarta-feira, dezembro 07, 2011

NACÃO CORAGEM NA TVZIMBO?

Cansado de ler, decidi fazer um zapping e fui ter, ocasionalmente, à TVZimbo que exibia um programa que me transportou aos tempos do "Nação Coragem" e "Angola em Movimento", programas de propaganda política/institucional do governo angolano, gravados na Orion e difundidos pela televisão pública, TPA.

Recuei e reconfirmei que estava no sítio certo: TVZimbo. Apenas o programa (Nossa Terra) é que era diferente do clone produzido pela TPA e diferente no estilo de redacção e apresentação. A locução e até a redacção eram as mesmas do Não Coragem e Angola em Movimento (escritos por brasileiros e lidos por angolanos).

Ancioso em tirar dúvidas sobre a "descoberta", peguei o telefone e, de imediato, mandei sms para alguns amigos jornalistas em Luanda, a perguntar-lhes sobre o que se estava a passar, só que, para a minha pouca sorte, ninguém soube explicar ao certo.

Tudo quanto pude, e já com o decorrer dos dias, me aperceber é que na próxima campanha eleitoral a Televisão Pública vai dedicar-se "exclusivamente" a dar tratamento igual a todos os partidos concorrentes, ficando a TVZimbo encarregue de fazer o “desempate”, ou seja, escoar toda a carga publicitária excedentária do Manda-Chuva.

Soube também que a Zimbo e a Mais estão já a preparar-se para a eventualidade de o Manda-Chuva não conseguir desferir uma nova “cabazada” aos seus adversários em 2012, assumirem o papel que então estava confiado à media pública (RNA, TPA, JORNAL de ANGOLA e ANGOP) de lavar a imagem institucional e dos titulares, bem como o contra-ataque que sempre se espera duma oposição.

São, de momento, conjecturas que o tempo se encarregará de esclarecer. Enquanto o jogo não começa de facto, o menu aponta-nos para um Nação Coragem na TVZimbo, para aquecer os players.



sábado, dezembro 03, 2011

O COMÍCIO DO MBUKAYO

Extracto de capítulo do livro "O RELÓGIO DO VELHO TRINTA"
(No prelo)

Mwata Cikambi sacudiu o único casaco que tinha e sem aviso prévio decidiu rumar à sede administrativa da circunscrição que tinha recebido um novo chefe. Com jeito vestiu a camisa branca, quase a perder a cor de tantas lavagens e nódoas involuntárias de sumo de cajú. A parte traseira estava mesmo rota. O velho, um antigo guerrilheiro da luta de libertação, meteu-se a caminho para uma conversa aberta com o nóvel dimixi .

- Menina boa tarde. O camarada administrador está?
-Sim paizinho. Mas … o senhor veio da parte de quem?
- Da minha parte mesmo. Vim sozinho. Sou o Mwata Cikambi. Menina num me conhece?

A jovem, esbelta de se pôr inveja, dezanove anos mais ou menos, cintura fina e ombros de cabide, levou tempo a responder e logo o velho notou que ou não o conhecia ou a secretária estava a fingir.

- Essas meninas de agora são sempre assim. O chefe pode estar lá dentro mas dizem sempre que não está ou está reunido. Mas hoje não sairei daqui sem que ele me receba. - Falou para si mesmo.

A secretária, sabendo que o chefe demoraria a atender o soba, optou por levá-lo à sala de espera.

- Mwata, espera só um bocado que vou já avisar o chefe que está reunido com umas pessoas que também vieram de longe e chegaram primeiro.
- Está bem filha, - respondeu, embora recticente.

Na sala, Satula recebia um a um outros senhores, os notáveis de Mbukayo. O administrador tinha apenas dias mas a lista de pedidos de audiências já era enorme. Eram fazendeiros que pediam alfaias e acesso ao credédito agropecuário, sobas que exigiam regalias, antigos guerrilheiros que pediam pensões, viúvas que procuravam por maridos desaparecidos na guerra, enfim… um mar de preocupações com que Satula nunca contaria logo na primeira semana. Mas o destino estava traçado. “Não adianta fugir dos problemas porque eles antecipam-se à nossa marcha”. - Desabafava com os poucos amigos que tinha na vila.

- Pai, toma um café? - Questionou Lawa, a secretária.
- Sim menina.
O tempo passava, a vez de entrar na sala do administrador tardava em chegar e o café esfriava. Nem sequer o tinha adocicado com o mel delicadamente servido numa tigelinha. Duas horas depois, com o administrador já pronto para o cara-a-cara, Lawa voltou à sala de espera e reparou que o café, já sem calor, mantinha-se intocado.
...
- Oh Citonji, essa tua mania do está ultrapassado eu não gosto. Como é que você vê as pessoas a sofrerem e na hora já de falar tudo o que se passa vens aqui com cantigas de que te ultrapassei. Por acaso você viu alguém na estrada a andar de vagar?
- Cala a boca seu terrorrista. A tua sorte e que a guerra já acabou se não eu mesmo é que ia te apagar desta vez. – Rechaçou Citonji, Manuel Nhanga de seu nome, mas assim apelidado devido a contracção de uma deficiência física na guerra da independência.

A rivalidade entre Mwata Citonji e Kajivunda era de há muito tempo e escapava ao conhecimento do administrador que os recebeu em simultâneo para exporem em conjunto as dificuldades por que passam os antigos guerrilheiros da pátria em Mbukaio.

Residiam, enquanto crianças, em paredes-meias e foi o único tempo de amizade e cumplicidades. Um no primeiro andar do pequeno edifício da vila que chamavam kaprédio e outro no rés-do-chão. A rivalidade começou na juventude quando tiveram de aderir aos movimentos. Chitonji era e é um farvoroso apoiante dos Vermelhinhos e como eles alinhou para as matas do Leste onde viria a ser lesionado no ombro esquerdo. Kajivunda sempre se reviu nos Verdinhos do Jacinto e cedo se tornou no encarregado da logística do mais novo movimento que depois passou à oposição armada ao regime dos vermelhinos. Separados no ano de setenta e um, voltaram a reencontrar-se já nos anos noventa e sem a pujança doutrora.
- Vocês do Vermelho são sempre assim. Lambem a bota até furar o cabedal… O administrador é novo e precisa de saber as coisas, pá!
- E vocês que partiram o Mbukayo pelo meio são quê. É? Me fala seu reaça.
- Reaça é você, seu cobarde. Onde te está a dar a comichão é onde você se coça. Porquê que andas roto se o vosso Vermelhinho te dá tudo e tu não precisas de nada mais?...

O Livro está na forja, se gostou, leia mais em www.atura-liter-atura.blogspot.com
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