"As duas" dos irmãos Almeida (música que retrata o amor doentio por duas mulheres) foi à fase final do "top dos mais queridos" 2010, mais por força do conjunto (disco) e da popularidade grangeada pelos manos do que pelo conteúdo da letra elevada ao concurso (análise minha).
É certo que uma das funções dos actores que exercem influências sobre a sociedade é observarem, descreverem e alertarem a sociadade. Daí que o problema evocado/levantado (cantado) pelos Almeida não deixa de ser pertinente. Aos actores, também sociais, cuja missão é moralizar a sociedade cabe fazer a interpretação correcta das mensagens e encaminhar "as ovelhas para o bom pasto". Até aqui o padre Apolónio esteve bem, na sua recente homilia na Igreja católica dos Remédios (Luanda). Porém, estendeu-se ao comprido ao ter sugerido que apenas "temos de cantar o que é belo" como se a letra sobre a poligamia e a poliandria que existem aos "olhos e gostos" até de padres fosse algo feio.
E o padre criticou também em hasta pública o " vai dar boom" (sexual) da Ary. Teria sido mais lógico se se tivesse referido à forma pouco sadia e ortodoxa como ela se veste e exibe, do que atacar a letra da música que descreve formas de viver activamente uma vida sexual a dois. "Na varanda, na cozinha, na sala ou no quarto" (desde que a dois e sem zongolas) não é, a meu ver, pecado algum.
Julgo que enquanto político (anthropos zoon politikon) Apolónio Graciano deve evitar juizos pouco abonatórios para si e para o património colectivo que é a igreja Católica.
Os músicos que cantem o que vêem e ouvem. Os clérigos que façam a interpretação correcta das mensagens lançadas pelos músicos e outros actores sociais, junto das comunidades que tutelam, para que todos moralizemos a sociedade angolana que anda doentia, conforme palavras do próprio padre por quem nutro respeito.
Quanto ao Top: ganhou quem já devia ter levado o "top" a muito tempo, por quilo que já fez na música: Yola Se(m)medo e a sua "injusta".