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segunda-feira, maio 31, 2010

O PRÉDIO DA QUIBALA


"Deixar de sonhar é morrer". Ninguém, e nada mesmo, pode colocar fim à imaginação criadora do homem, sobretudo quando se sente em condições de realizar.

Alguém, um cidadão anónimo quibalista, quis construir um edifício de dois pisos. O homem sentiu-se encantado ao encontrar edificios daquela natureza na vila sede. Pensou emocionado em construitr o seu. Faltaram-lhe porém, a ciência, os recuros financeiros e materiais. Mas não desistiu.

Encontrou na aldeia um espaço com desnível de relevo. Um terreno subdividido com uma parte mais alta do que a outra. E pensou ele que aquele seria o local ideal para realizar o seu sonho, construindo duas residências geminadas que, vistas de longe, pareceriam pisos sobrepostos.

Bem pensou, partiu para a prática. Fabricou adobes, comprou chapas de zinco e ... mãos à obra!

A foto (gentileza de Maria João Neto) diz tudo.

terça-feira, maio 25, 2010

O QUE FAZER DEPOIS DA MEIA IDADE?

Hoje 25 de Maio, dia em que os africanos se rejubilam pela criação, em 1963, da OUA, agora transfigurada em União Africana, é também o meu dia de bodas. E faço 36 anos, o mesmo que estar mais para lá do que cá,  tendo em conta o que determinei como idade ideal para se viver que são setenta anos. Por isso, passo hoje à outra idade, a da razão pura, reflexão e comedição.

Não me cobrem se já não soltar sorisos rasgados; se me virem vestido a papá; se não vos responder na hora, temendo tomar decisão errada; se for comedido nas afirmações e nos discursos, ... Tornei-me um mais velho e "mu dikano dya muadyakime ki mutundu maka mabolo".

Actos aplausíveis e apupáveis terei sempre pois me sujeito à minha condição humana... E penso também hoje no que fiz, tenho de fazer e como viver os 34 em falta... 

terça-feira, maio 18, 2010

O DIA EM QUE OS BOMBEIROS CHEGARAM TARDE

Tornaram-se vezeiros os incêndios de grandes proporções na capital angolana e com prejuízos enormes, às vezes incalculáveis, se estendermos os danos aos morais.

Por descuido ou desleixo para com as normas básicas de segurança das instalações, todas as semanas são reportados incêndios em instalações comerciais e residências que deixam muito angolanos com dores físicas e bocas amarguradas. O mais recente incêndio de grandes proporções aconteceu no mercado do Roque Santeiro, ao Sambizanga, tendo consumido bancadas, barracas e casas onde era guardado material de construção em venda naquele mercado paralelo (feira).

Pelo que se ouviu das visadas, entrevistadas pela TPA, qualquer uma das vendendora terá perdido valores acima de USD 3.000,00, pois só com aquele montante se pode entrar para a comercialização de materiais de construção.  E não estamos a falar de empresárias. São pobres mulheres que pediram o dinnheiro emprestado de alguém conhecido, com o único objectivo de manter acesos os fogareiros e os fogões.

Mulheres  "vijunárias" que recorreram, agregadas, ao kixi-crédito e ou micro-crédito para poderem sustentar as famílias ao mesmo tempo que reembolsam os valores recebidos. E o fogo consumiu tudo o que encontrou encaixotado. Lavrou até o dinheiro que "por questões de segurança as senhoras nunca conseguiam levar para casa, deixando-o guardado entre as imbambas". Perderam-se "vidas" feitas ao suor de muitos dias de sol, frio e poeira no descampado do Roque Santeiro. E foi "graças a pronta intervenção dos bombeiros" pois, pelo contrário, "o chão teria ardido"...

Se com a "pronta intervenção" do corpo de bombeiros acontece o que a TPA mostrou (reportado como um infausto incêndio), gostaria de saber o que acontecerá no dia em que os bombeiros chegarem tarde?

domingo, maio 16, 2010

UM MITO CHAMADO LIBOLO

Antes dos três jogos que definiram o vencedor da taça de Angola em basquetebol ninguém, nem mesmo eu (acérrimo defensor da equipa da minha municipalidade) acreditava na vitória do Libolo frente ao "tout puissant" 1º de Agosto.

A primeira partida saldou-se numa pesada derrota para os libolenses que entraram na luta pela primeira vez, relegando o petro e ASA. Foram 116 pontos para os militares e 80 para os "atrevidos" libolenses o que fazia prever "um passeio" do D'Agosto na competição.

No jogo que seria da confirmação, o Recreativo do Libolo venceu por 3 pontos de diferença, 92-89, o que levou as duas equipas a disputarem uma finalíssima. Nem com isso a aposta se equilibrava a favor dos libolenses, pois há muito os militares são papões na modalidade e a turma da vila cafeícola do Kuanza-Sul apenas está na competição há duas temporadas.

Na finalíssima, disputada hoje, o 1º de Agosto auto-confiante defrontou um Libolo com elevado estado anímico e o resultado não podia ser outro: 66-64 a favor dos "miúdos" que conseguem o seu primeiro título no basquetebol masculino angolano. E está apenas há duas temporadas na competição, seguindo os mesmos passos que a e quipa de futebol que ao entrar foi terceiro melhor classificado do Girabola, subindo para vice-campeão na segunda participação (2009).

terça-feira, maio 11, 2010

O IMPACTO DO ATRASO SALARIAL NOS JUROS DE MORA

Há alguns anos o que mais aquecia o debate dos economistas angolanos radicados em Luanda era a bancarização salarial. Um imperativo que se afigurava de todo útil e inadiável, tendo em conta a possibilidade de regularização da economia nacional, a possibilidade que os trabalhadores teriam/têm de contrair empréstimos junto da banca comercial, as lera livranças (alguém ouve mais falar delas?) e etc., etc.

Bancarizados que estão agora os "kumbús" (dinheiro) de muitos angolanos, um outro muro surge bem "à frente dos trabalhadores": o atraso de salários na função pública e nalgumas empresas e mistas. Como era de imaginar, para além dos fogões que entraram num estado de ociosidade, cozinhando dias sim, dias não, o ordenado do mês em falta está já duplamente comprometido com o pagamento de kilapis (dívidas) contraídos para acudir o atraso salarial e com os elevados juros de mora, junto dos bancos credores.

Aqui chegados e sem que o "quem de direito" venha a público explicar o que, na verdade, se estará a passar como o salário e o como será vista a questão junto da banca credora, que descontará "um juro incrementado" em função da "nossa má fé (?)", enquanto devedores (culpa porém que nos é alheia), só nos restam  os jornalistas "independentes" para promoverem debates, juntando empregadores, Banco Nacional, bancos comerciais (pagadores de salários e cobradores de juros de mora), MINFIN, economistas, cidadãos afectados pelo atraso salarial e pagamento de juros hiper-altos e outros actores sociais e económicos para produzirem os esclarecimentos que se impõem. 

O que são juros de mora?

Quando alguém está obrigado, por um contrato ou pela lei, a realizar um pagamento dentro de um prazo determinado e, por sua culpa, não o faz, diz-se que essa pessoa se encontra em mora. Ao encontrar-se em mora, o devedor fica legalmente obrigado a indemnizar o credor pelos eventuais danos por este sofridos, decorrentes do não pagamento em tempo devido. Esta indemnização traduz-se no pagamento de juros de mora (em países com Portugal a taxa aplicada pode ir até 8% do montante em atraso. Em Angola desconheço os valores pelo que peço contribuições a quem as tiver). Assim, além da dívida propriamente dita, há que pagar uma compensação ao credor pelo atraso do pagamento.

Algum jornalista ou editor (dos M.D.M. e O.C.S.) segue este caminho? Haja coragem!

sábado, maio 08, 2010

A DÉBIL SEGURANÇA LABORAL NAS OBRAS CHINESAS

João Cipalavela é natural do Kuito. Forçado pela pobreza e pela guerra viu-se longe da escola e dos centros de formação profissional. Agora adulto, e com a formação da família em perspectiva, Chipalavela decidiu fugir da ociosidade e dos maus vícios (drogas, alcoolismo), empregando-se, em Luanda, numa empresa de fabricação de blocos de cimento utilizados na construção civil.

- "Aqui, óh mano, a vida é dura. O tal dinheiro mesmo que nos pagam é só vindi-e-um mili kuanza. Nó chega mesmo e ainda nos descontam lá a comida que comemos"._- Disse-me quando o abordei sobre a sua proveniência rápidamente denunciada pelo sotaque no falar.

Chuipalavela e amigos, todos de províncias do interior, labutam mais de 18 horas ao dia, com apenas 24 horas de descanço ao longo da semana. É um trabalho árduo. Carregar as betoneiras, controlar as máquinas, carregar os blocos húmidos para o sol, arrumá-los depois de secos, carregá-los nas camionetas que atendem os clientes e descarregá-los nas obras destes e outros afazeres domésticos no estaleiro.

- "Óh mano, ainda se você não tem força te mandam 'mbora sem te pagar. Só nós mesmo é que aceitamos. Os daqui (luandenses) num aceitam esse trabalho. Lhes mandam só um dia, já num vorta mais"- Contou-me.

Mas a vida dura de Chipalavela e companheiros tem outros capítulos. Um deles tem a ver com a insegurança no trabalho. Chipindi é de Boas Águas, no Catchiungo - Huambo. Trabalha na empresa de confecção de blocos, detida por chineses, há nove meses. O jovem reclama de maus tratos, da jornada contínua sem descanço e da falta de equipamentos adequados de protecção individual (EPI's), bem como da ausência de cuidados médicos em caso de sinistros. Chipindi conta que ao arrumar os blocos houve a queda de um monte,provocando-lhe escoriações no rosto e nos dois braços e antebraços. O patrão apenas deu-lhe duas coritas (adesivo) e nada mais.

_ "Nem só mesmo álcool ou tintura me deram, para não falar já de me levar no hospital". A mulher do patrão que senta aqui (indicava ele à cadeira ocupada habitualmente por uma senhora também chinesa) me disse vai se lavar com a água do tanque e depois põe essas duas coritas que me deu. Assim estou ainda a pensar se este mesmo é tratamento que se dá numa pessoa" - desabafou.

Notei ainda que mesmo com o sol ardente do meio-dia os motoristas chineses nunca permitem que os seus ajudantes angolanos (carregadores de blocos) usem a cabina da viatura, tendo de fazer-se transportar por cima da carga,recordando-nos cenas antigas de "mona ngambé" (filho de escravo).
Por tudo o que vivenciei nos três estaleiros que percorri na última quinta-feira 06.05.2010) em busca de matéria-prima para a minha obra, uma chamada de atenção aos fiscais do Ministério do Trabalho não seria pedir em demasia. Seria bom também que os SME passassem por essas empreiteiras e verificassem se todos têm autorização legal de permanência. É que se chega rápidamente à conclusão que para além da falta de respeito às normas elementares de saúde e tratamento humanos, há também muitos chineses e chinesas dispensáveis para o tipo de trabalho que se pratica.

Passem por lá, Srs do MAPESS e SME, e apliquem a tolerância ZERO.

Nota: O autor viveu os factos ao dirigir-se aos estaleiros paralelos à obra da SONANGOL DISTRIBUIDORA e cooperativa cajueiro, na estrada da Camama, bairro Viana II. A reprodução textual respeita o "linguajar" dos declarantes.

quarta-feira, maio 05, 2010

CRESCEM ASSALTOS NA PERIFERIA DE LUANDA

Até ao ano de 2002, quando a preocupaçao maior era acabar com a guerrilha, a questão da mitigação dos assaltos, à mão armada, em Luanda e noutras cidades do país, era tida como secundária. Os meios (humanos, técnicos e financeiros) eram quase todos eles canalizados para as "zonas quentes" e até mesmo delinquentes conhecidos eram recrutados para a "causa maior" da nação, a defesa da integridade territorial e da soberania.

Conseguida a paz, em 2002, começou-se a olhar um pouco mais distante da curva do nariz. Começou a falar-se sobre o policiamento de proximidade (o finado Isaias Chungufo foi dos primeiros a propagar entre nós o termo). A polícia viu-se apetrechada com novos meios técnicos e os homens recebem formação. Só que os defeitos  "de fábrica" se mantêm. É a preguiça quando não é o carro avariado, São os charcos que impedem a circulação das patrulhas, os mesmos homens que foram parar à polícia de forma acidental, enfim, os males de sempre emperram ainda a rotação máxima e desejável da engrenagem policial, e vezes sem conta somos confrontados com informações sobre assaltos à mão armada nas ruas, nas paragens de transportes, em residências e em lugares que a priori o incauto nunca desconfia.

O bandido está em todo o lado. Excepto a prontidão da nossa polícia. Ontem mesmo (04.05) dois individuos que seguiam atrás de mim (19h30) foram assaltados em Viana por dois meliantes armados que se colocaram em fuga depois de consumado o acto. Cantinas têm sido assaltadas dias sim, dias também. Os nossos homens de farda azul sabem disso e na prática nada!

Hoje de madrugada, na zona do SEIS, em Viana, três residências foram simultâneamente assaltadas à mão armada sem que a polícia movesse alguma palha. Avisado ao telefone pela minha irmã, ainda liguei para o nr.113, tendo o homem do piquete mostrado preocupação e sinal de que a polícia lá iria em socorro dos aflitos. Tudo o que sei é que os bandidos levaram o que queriam e inclusive "pintaram o diabo". Acordados pelos gritos os vizinhos compareceram e ofereceram compaixão... Apenas a polícia não se fez presente.

Que relação haverá entre os gatunos e aqueles que, sendo sua tarefa combatê-los, nada fazem?