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sexta-feira, abril 30, 2010

A ALEGRIA DA MINGOTA E A INFELICIDADE DO KITEMBO

Alegre, ela. Sabe cativar e expandir sorrisos rasgados ao vento. Assim procedeu e atraiu o seu macho predilecto.

Gordo, ele. Fora esbelto num passado que apenas os amigos de infância e adolescência conhecem. Juntos os via caminharem da Central à Moisés, em dias do centenário Metodista ou a caminho dos ensaios do coro. Juntos também estavam, vezes sem conta, no Ngola Mbandi onde concluíram o ensino básico na década de noventa do século XX. Kitembo é amigo do Canhanga, diga-se, apesar das curvas e contra-curvas que os separa últimamente.

Domingas, ou simlesmente Mingota, Kitembo e Canhanga têm algo em comum. Ambos entendem de jornalismo. Cada um a seu nível de prática e conhecimento, pois foram sempre de formações e visões diferenciadas. Os dois primeiros no activo e na mesma rádio onde Kitembo é líder e o terceiro emprestado à comunicação institucional duma empresa de grande porte. Vez por vez encontram-se os rapazes, para trocar ideias, discutir o indiscutível ou até mesmo tomar uma pinga. Bons frascos já foram ambos no passado, mas as responsabilidades profissionais e a idade que pesa com o cair de cada sol vai atenuando a frequência com que se entregam ao que marcou o primeiro milagre de cristo.

Nestes anos de simples adepto do jornalismo, sem poder entrar em campo e marcar golos, Canhanga aprecia, com nostalgia, os lances mal efectuados de cada amigo, cada conhecido, cada voz que encanta e cada texto que encontra nas mãos dum ardina. E foi nesta pele que ouviu a voz do amigo vomitada pela caixa do carro anunciando que "infelizmente" os ouvinte não teriam a reportagem matinal da Mingota que "felizmente" contrairia matrimónio naquela manhã de sexta-feira.

O Kitembo (na foto) perdeu, no serviço, temporariamente a Mingota que se casou.

sábado, abril 17, 2010

A CANTINA DO KAMARÁ E A LEI DOS 3M

Sabe-se que quando da independência, havia um comércio retalhista estruturado, com lojas e cantinas (comércio precário) com um sistema de produção de bens considerado aceitável para aquela época. Importa também reconhecer que a economia angolana nem sempre esteve totalmente monetarizada, coexistindo o comércio monetarizado e a permuta (troca de bens/produtos por outros de valor equivalente). Três factores animam nos últimos anos o nosso comércio.

De um lado está o comércio informal, feito em locais impróprios e que prejudica a vida urbana (circulação, asseio, estética, etc). De outro lado está o surgimento de grandes e médias superfícies que vão cobrindo, nas cidades, um vazio que há muito se fazia sentir em termos de concentração de bens e serviços num espaço único. Para o caso de Luanda existem os Shoping’s e os "Nosso Super". A terceira variante, e preocupante, tem a ver com o surgimento de cantinas, nos subúrbios das cidades, detidas maioritáriamente por cidadãos expatriados. É aqui que os cientistas sociais são chamados para estudos sobre as causas e objectivos dos promotores deste tipo de “apropriação silenciosa”.

Sabe-se que à luz da legislação económica angolana, os estrangeiros são chamados para investirem em áreas que envolvam avultadas somas monetárias e para as quais os nacionais não estão in solo “preparados” para a demanda que se impõe. O comércio grossista é, por via disso, um pedaço em que são chamados a debitar esforços. O que se assiste, porém, é o contrário e várias vezes nos perguntamos: _ Porque será que as cantinas passaram todas às mãos dos Kamarás, Dialós, Diarrás e Diakités?

Um estudo (ainda inacabado) sustenta que por trás dos cantineiros expatriados estará uma mão invisível que usa os mesmos métodos praticados pelos europeus nos longínquos séculos XIV e XV, ou seja, os 3M: marché, missionnaire et militaire (aqui entendível apenas como povoir/poder). Os norte e oeste-africanos usam o comércio/economia para expandirem a sua religião (islamismo) e com ela (a religião proporcionará o aumento de prosélitos angolanos confessos) virão outras formas de exercício do poder. Sabe-se que a economia e a política andam sempre de mãos dadas.

Não se podendo pôr termo ao surgimento das actuais cantinas que encarnam o chamado comércio de proximidade, urge a necessidade de regular/definir e fiscalizar os que o fazem e em que circunstâncias exercem esta actividade. Por outro lado, assistindo-se ainda à permuta em algumas áreas do interior do país, fruto do fraco nível de produção e distribuição, entendo que só a autosustentabilidade em termos de bens e serviços nos levará à completa monetarização do comércio e ao equilíbrio entre a procura e a oferta que muito afecta os preços.

Estando, com certeza, o Governo atento ao debate e às prementes necessidades dos angolanos, o anúncio feito pelo Presild, de pretender levar ao interior mais de dez mil lojas de proximidade, é um valente passo que só peca por tardia.

Publicado no jornal "Semanário Económico" do dia 15 de Abril de 2010.

terça-feira, abril 13, 2010

UAUÉ: NVULÉÉÉÉÉÉ!!!

Ai-ué: É Chuva!
A interjeição, expressa em Kimbundu, indica preocupação devido à chuva que se aproxima. Em Luanda ela é solta quase sempre que São Pedro abre as portas. Choveu no domingo, 11 de Abril, e as consequências de uma urbanização precária estão à vista. Os danos materiais e financeiros estão por calcular e sabe-se mesmo de antemão que não haverá especialistas para os recolher um a um e os divulgar.

Quanto aos danos morais, estão todos os caluandas afectados. O transito ficou mais complicado (como sempre),  a água invadiu e arrastou tudo o que econtrou pela frente, enfim. Só quem vive em Luanda sabe o  que lhe acontece neste período. Dos políticos no governo apenas falatórios... Promessas de dias melhores que se repetem ano após ano...

"_ E agora?
_ Refazer tudo partindo do nada. Comprar novas moibílias, comprar novo carro, arrendar uma nova casa, reconstruir o que se destruiu.

_ Lamentar?
_ Nada. Pra quê meu mano? Mesmo que chore ninguém limpa as lágrimas.... vamos só é seguir em frente!"

Fim de citação.

domingo, abril 11, 2010

MALANGE OU MALANJE?

Disseram-me, nos tempos em que andei na Rádio, que o que mais valia em radiodifusão era a dicção e não a correcta redacção ds palavras, sobretudo homófonas. Para a imprensa, e se chamarmos a questão formativa, chego a conclusão de que estava perante um ledo engano. Escrever bem é uma arte. Os topónimos, antropónimos e outros nomes, devem ser escritos de forma correcta e exemplar para que não criem confusões aos novos membros da "família" (menores em processo de aprendizagem, visitantes, expatriados, etc.).

Quem lê a página "Regiões" do Jornal de Angola encontra grafado em diferentes formas o topónimo que designa a província da Palanca Negra Gigante. Nota também que os próprios repórteres, a partir do local dos acontecimentos, grafam-na a seu bel-prazer, tal qual o fazem os editores dos média em Luanda.

_ Como ler na mesma secção textos assinados por repórteres que escrevem a partir da mesma província grafados de forma diferente? Onde estará o erro?

Já vários debates foram feitos por linguistas nacionais e especialistas do CICIBA (Centro de Estudos da Civilização Bantu). A letra exprime melhor, e de forma correcta, o fonema deste topónimo. Para aqueles que não gostam de pesquisar bastará ir à página do Governo da Província em causa que tem a grafia correcta da palavra. Queira ver: http://www.malanje-angola.com/

terça-feira, abril 06, 2010

AINDA NÃO FOI DESTA

Choveram chamadas telefónicas e mensagens por sms, procurando confirmar se realmente era eu, Luciano Canhanga, que tinha ido "para melhor". É que circulou informação segundo a qual eu tinha sofrido um acidente fatal. Felizmente não foi desta.

Obrigado a todos quantos manifestaram a sua preocupação e atenção, demonstrando ser meus verdadeiros amigos do peito.

domingo, abril 04, 2010

REVIVER O ACORDO DE PAZ "DO LUENA"

A história faz-se com vários retalhos verdadeiros que são as narrações conforme vivenciado pelos participantes. Em Março de 2002, depois da morte "em combate" do líder da rebelião angolana, Jonas Savimbi, fui enviado em reportagem ao Luena (Moxico).

Viviam-se tempos de grande apreensão e carências na cidade do Luena. Angola inteira estava aprensiva quanto ao desfecho do que se acabara de ouvir/ver/ler. Muitos ainda não tinham acreditado no que a comunicação social veiculava. Os populares afectos à Unita e aqueles que eram resgatados das matas anteriormente controladas pela rebelião nem sequer se lhes passava pela cabeça o que acabavam de ouvir e assistir. "A Paz tinha chegado e Savimbi tinha sido morto". Outros receiavam outro recrudesceimento das hostilidades, caso houvesse vingaça dos "maninhos" pela morte do seu chefe. Eram dias de "ver para crer".

De Luanda ao Luena viajei num beachcraft do Programa Alimentar Mundial e na antiga cidade do Luso acomodei-me em casa de uns "amigos de ocasião", na rua do Instituto Médio Normal de Educação. As vitoriosas Forças Armadas Angolanas tinham um Estado Maior avançado onde decorriam as "negociações" e os "rendidos" chefes militares da Unita estavam uns hospedados na pensão Horizonte e outros num hotel.

As conferências de imprensa eram dadas na sede do Governo Provincial para onde eram chamados os jornalistas que cobriam para o país e o mundo os últimos desenvolvimentos das negociações para a paz selada oficialmente a 04.04.2002 (em Luanda).

Numa tarde de Março, ao passar pela pensão Horizonte, decidi tomar uma cerveja e comer algumas moelas. Era o que mais aparecia. Comida havia pouca para as grandes multidões que todos os dias chegavam, transportadas em carros militares e helicópteros, procedentes das matas... No interior do bar da pensão encontrei os generais Uambo Kalunga, Chiwale e outros militares a quem "atrevidamente" pedi uma entrevista. Os homens da Unita tinham um elevado gosto em falar para a média privada e estrangeira. Diziam que era segura, pois não deturpava as informações prestadas. A conversa ficou agendada para as seis horas do dia seguinte, uma sexta-feira (?) de muito frio e medo à mistura.

No primeiro andar da PH fui recebido por militares magros, mal uniformizados e de meter medo. Era tamanho o medo que se nutria pelos homens da Unita que meses antes tinham atacado um comboio na  ferrovia de Luanda/Dondo, provocado muitas mortes e feridas ainda não saradas. O responsável pela operação rebelde, o general Apolo, estava também no Luena... Os "guardas"depois de anunciar a minha presença aos "mais-velhos"(assim se tratavam) encaminharam-me a um quarto-caserna onde estavam os generais acima citados. bebiam whisky ao gargalo, manhã cedo, e estavam igualmente mal aprumados, mas desejosos de nunca mais voltarem às matas. Esta mensagem era facilmente legível nos seus rostos. Cansados, entretanto aliviados. Uambo Kalunga e Chiwale falaram demoradamente comigo antes de acederem à gravação do "discurso oficial".  

Disseram que as conversações eram sérias, que não se tinham rendido, mas apenas revisto a estratégia e reconhecido as vantagens de uma paz e reconciliação definitivas. O discurso oficial ou o permitido era o de transmitir segurança às populações e fazer com que aqueles que estivessem ainda nos "maquis" regressassem às cidades, onde seriam assistidos e cadastrados para posterior realojamento dos civis e acantonamento dos milicianos.

Tinha sido uma conversa de muito sucesso para a Luanda Antena Comercial, minha antiga patoa, que levava do Luena para os radiouvintes da capital angolana relatos, em discurso directo, de homens que estiveram com/ou próximo de Savimbi nos derradeiros dias da sua vida.

Uambo Kalunga e José Chiwale também estavam contentes por terem podido falar de forma aberta e informal, pois as únicas vezes em que tinham podido falar tinha sido no Comando Avançado ou no local das conferências de imprensa acima citado.

No Hotel Luena (ex hotel Luso na imagem) estavam os políticos e os militares de topo: Chitombe, Lucas Kananai, Vinama, Mário Vatuva, Marcial Dachala, Lukamba Gato, Alcides Sakala, Apolo e Kamorteiro. A execepção de Apolo, que era o "chefe da frente Norte", estavam todos desnutridos e gastos pela guerra e pelas carências vividas na selva e falavam à comunicação social apenas depois das jornadas de conversações. Outros porém, os civis, estavam piores: excassos de tudo. No edifício inacabado, que fica próximo da diocese, que albergava os "provenientes", senti mesmo tanta pena de um jovem professor das matas que me desfiz da camisa e voltei à casa apenas com a camisola interior. Era o dia-a-dia em todas as visitas que fazíamos aos campos onde estavam "provenientes" das matas.

Não se esquecerá das suas palavras o general Lukamba Gato, quando na altura dizia para a Comunicação Social (24/03/2002) que o momento que viviam, ao voltar à cidade, era de "muita emoção", mas o que importava era "perceber a dimensão humana deste processo".

Uma semana depois foi aprovada pelo parlamento multi-partidário a lei da amnistia para os militares da UNITA (02.04.2002) e assinada, a  04.04.2002, a "paz do Kamorteiro" (na foto à direita de Gato), pelos então Chefes de Estado Maior (das Forças Armadas Angolanas e Forças Militares da Unita), na presença do Presidente da República, Eduardo dos Santos, Ministros, parlamentares, representantes diplomáticos e outros convidados. Angola, sem intervenção directa de terceiros acabou por legar à história uma das suas páginas mais negras. A Paz era/é um facto construído sobre fortes alicerces. O culpado-maior pela guerra foi retirado do cenário a 22.02.2002...

São já passados oito anos.

quinta-feira, abril 01, 2010

LIBOL'AVANTE

AVANTE LIBOLO! Assim se canta no municipio do Kuanza-Sul que fica, desde o dia 01.03.2010, a 35 minutos de Luanda. Tudo porque  a municipalidade, que já dispõe de renovadas infraestruturas rodoviárias, conseguiu inaugurar o seu aeródromo, "novo em folha".

O empreendimento reveste-se "de capital importância para o desenvolvimento da região que fica assimmais perto de Luanda", a capital do país.

A nova pista aeroportuária de Calulo recebeu, pela primeira vez, duas aeronaves transportando a equipa de futebol do APR do Rwanda. Infelizmente, o jogo saldou-se em vitória para os forasteiros que transitaram para a eliminatória seguinte na liga dos campeões africanos.

De recordar que o antigo "campo de aviação" ficava no local em que foi erguido o estádio de Calulo, propriedade do Clube Recreativo do Libolo, equipa que faz sucesso no GIRABOLA.