Dados oficiais apontam que este ano o sector industrial em Angola representa cerca de 61,1 por cento do Produto Interno Bruto (PIB) que é a soma de toda a riqueza produzida no país durante o período. Olhando para os números parece que vivemos num país amplamente industrializado. Os números referem-se tão somente à indústria petrolífera, mineira/diamantífera, de bebidas, e outra nascente em pequeníssima escala como pequenas cerâmicas e similares. Toda a indústria pesada pré-existente está desactivada ou degradada.
Da indústria em Angola, tida em tempos, como o factor decisivo do desenvolvimento tendo a agricultura como a base, restam apenas dizeres e intenções. O que o país herdou do regime colonial, em 1975, era uma indústria embrionária e marcadamente agrária, quando comparada com os grandes parques industriais das metrópoles de então, ou mesmo de outras colónias anglófonas. A ausência de quadros qualificados para esta indústria herdada, a falta de novas tecnologias e de matérias-primas, bem como de uma gestão virada para o desenvolvimento e o lucro, aliada à guerra civil que se prolongou até 2002, deitaram toda a herança industrial ao ostracismo.
O que temos hoje é novamente uma indústria que renasce à volta das grandes cidades, longe, por isso dos potenciais produtores de matérias-primas. Esta tímida reindustrialização esbarra ainda no fraco investimento, quer do Estado, enquanto proprietário, quer do empresariado privado, este último inibido pelas elevadas taxas de juro, diminuto período de graça ao reembolso e instabilidade do mercado financeiro, etc.
Tudo o que vemos, é por via disso, o crescimento da indústria petrolífera com gigantescos saltos, seguindo-se-lhe a de bebidas, que viu os seus equipamentos renovados e ou ampliados. A mineração, embora afectada pela crise financeira internacional dos últimos 12 meses, conheceu igualmente algum desenvolvimento tecnológico, mas condicionada aos ventos da economia e finanças internacionais.
Com a paz, a desminagem dos campos aráveis e o consequente crescimento da produção agrícola, urge necessário partir-se para a agro-indústria, seguindo os passos dados pela Rússia em finais do seculo XIX e princípios do século XX. É lógico que não se seguirão os passos à risca, mas será de todo útil que ali onde houver produção, haja também uma indústria de transformação e conservação. Isto não só encorajaria os pequenos agricultores a produzirem cada vez mais excedentes para a venda às novas indústrias transformadoras, como também motivaria os empresários a investirem cada vez mais, levando o país à auto-suficiência e posteriormente à competição internacional. Aliás, lidos os últimos discurso políticos dos mais altos governantes angolanos, é por este caminho que tendem as ideias e as orientações.
É preciso ressuscitar defuntos como a Sucanor, Mabor, Fabimor, Ert, Satec, Caima, Macambira, entre outros gigantes dum tempo não muito recuado. É preciso fazer renascer o ferro de Cassinga, reciclar o ferro-velho, espalhado um pouco pelo país, e transformar as “sobras da guerra” em arado para os campos. Temos de voltar aos tempos em que em cada canto havia um ofício e em cada vilarejo uma pequena indústria. Nasci numa comuna do interior do Kwanza-Sul que possuía uma pequena fábrica de sabão, pertencente à família Cabral, e uma cerâmica da família Cunha. Quem é da Munenga sabe que haviam até fabriquetas de processamento de óleo de dendêm e descasque de café dos quais restam apenas escombros.
Na semana em que foi aprovado pelos deputados angolanos o OGE para 2010, importa pedir que quer os números previstos no documento executivo do governo, quer as intenções manifestadas pelos investidores privados junto da ANIP se tornem em realidade para que num horizonte curto, Angola venha a ser, não só, um canteiro de obras mas também uma engrenagem em rotação.
1- Publicado pelo Semanário (angolano) Económico na sua edição de 17/12/09