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domingo, junho 29, 2008

QUEM VEM AI?


Sempre quis ser engenheiro de minas. Mas a docência e o jornalismo cortaram o meu sonho à raiz, restando-me a consolação de poder ver o meu primogénito a envergar os calções, que sempre me motivaram para a engenharia, o martelo, o capacete, os óculos protectores e todos aqueles utensílios que encantam um garoto da primária.

Mohamed Mociano Canhanga, a minha aposta, parece, porém, não estar interessado neste tipo de coisas. Mais dado ao português e ciências que exigem decoração, ou seja, lápis e papel, do que à matemática e outras exactas. O rapaz aparenta possuir um engodo pela redacção noticiosa. Prova disso foi o exercício que pedi que fizesse, aquando do desmoronamento do edifício da DNIC.

E o Mohamed escreveu:

NOTÍCIA

Caiu o prédio ou edifício da DNIC. Polícias andam com os seus melhores meios para a possibilidade de (encontrar) as pessoas que estão debaixo do edifício desabado de seis andares.

Uma das maiores causas foi a população em fronteira com o edifício furarem paredes para passar a canalização de água aos outros vizinhos ou então parentes.

A IPAL (EPAL) tenta impedir que voltem a fazer mais vezes, e as outras causas são os tubos rebentados que a IPAL (EPAL) já tentou arranjar, mas nada se resolve.

Estavam lá bombeiros, ambulâncias e também ministros, presidente José Eduardo dos Santos. Os ministros trouxeram alguns alimentos para os homens que trabalhav(ão)am no edifício desabado.

Assinado: Mohamed Canhanga

OBS: Nestes teus 11 anos o papá deseja-te boa escolha para um futuro diferente do meu!

terça-feira, junho 24, 2008

UM EMPATE QUE NOS CUSTOU MILHÕES


Crónica de viagem

Caminhei desta vez com o ouvido colado ao receptor de rádio numa segunda-feira futebolística. Foi numa tarde em que usando das faculdades que lhe são atribuídas por lei, Francisca do Espírito Santos, governadora de Luanda, decidiu decretar uma tolerância de ponto para a função pública, das 13 às 20 horas. Por hábito dos angolanos à fuga ao serviço ou pelo elevado sentido patriótico, muitos funcionários de empresas mistas e privadas acabaram também por fechar os gabinetes para todos, no campo ou fora dele, torcerem para a vitória do 11 nacional, os Palancas Negras, num pasto que se avizinhava difícil diante dos cranes do Uganda.

E assim foi a minha viagem numa Luanda totalmente esburacada, por culpa da chuva, do desgaste e das intermináveis obras. Quem vai à baixa da capital sabe disso. Pára-se mais do que se anda.

Mas voltando ao futebol, dizia que do ponto de vista político e institucional tudo foi feito para que o pasto dos Palancas fosse melhor do que um mísero empate que nos custou milhões ou senão mesmo triliões de Kuanzas.

Num comentário que fiz à rádio cinco, respondeu-me o moderador do “auditório público” que “ninguém perdeu nada por se ter decretado uma tolerância de ponto”. Puro engano do confrade.

Os salários são pagos e o trabalho não é feito. Perdem os patrões que têm de obedecer à ordem institucional, e perde o Estado sempre que os objectivos que norteiam o accionamento da tolerância de ponto não são atingidos, como aconteceu na segunda-feira, 23, no jogo contra o Uganda. Os mais atentos economistas e mesmo os leigos, como eu, disso há muito andam despertos.

E tivemos um empate da selecção nacional que custou milhões de Kuanzas e milhares de lágrimas aos aficionados do “desporto rei”. Agora que está explicado o quanto os angolanos e o Estado perderam com o empate dos Palancas, resta-me também olhar para as contas:

Restam dois jogos para cada uma das selecções, Uganda, Benin, Níger e Angola, só os seis pontos nos servem. Pontos que têm de ser arrancados ao Benin, líder com nove pontos, e Níger com zero.

Vencendo ao Benin em casa ficaríamos com eles empatados pontualmente, e vencendo o Uganda ao Níger voltaríamos à situação da terceira jornada, ou seja, três equipas com nove pontos. Na sexta e última jornada, se Angola vencer o Níger, em Luanda, fará 12 pontos, os mesmos que terá o vencedor do jogo Uganda/Benin.

Atendendo que para a fase seguinte passa o melhor e são repescados mais oito segundos classificados, estaríamos assim na fase seguinte de grupos. Outro resultado que nos facilitaria a vida seria um empate entre o Ruanda e o Benin na sexta jornada. Mas olhando para a produção em campo do nosso combinado nacional, haverá pernas e peito para arrancar três pontos em casa dos beninenses?

Só um apelo se pode fazer. Que os atletas absorvam da melhor forma as aulas do professor e que Oliveira Gonçalves se esmere na transmissão de conhecimentos, porque das duas, uma coisa tem estado a falhar. E se o país investe milhões, inclusive com tolerâncias de ponto, aqueles que traduzem em campo as nossas aspirações têm o dever e a obrigação de nos colocarem no próximo mundial, já que o acesso ao CAN/2010 é automático, por via da organização do mesmo.


Luciano Canhanga

quinta-feira, junho 12, 2008

MAKING DREAM


Realizando o sonho de Martin Luther King (no seu célebre discurso "I have a dream").

"Eu Tenho Um Sonho" é o nome popular dado ao histórico discurso público feito pelo activista político estadunidense Dr. Martin Luther King, Jr., no qual falava da necessidade de união e coexistência harmoniosa entre negros e brancos no futuro. O discurso, realizado no dia 28 de Agosto de 1963 nos degraus do Lincoln Memorial em Washington, D.C. como parte da Marcha de Washington por Empregos e Liberdade, foi um momento decisivo na história do Movimento Americano pelos Direitos Civis. Feito em frente a uma plateia de mais de duzentas mil pessoas que apoiavam a causa, o discurso é considerado um dos maiores na história e foi eleito o melhor discurso estadunidense do século XX numa pesquisa feita no ano de 1999

A elegibilidade de Barack Obama, à chefia da Casa Branca, é ou não a materialização do sonho de King onde "crianças de todas as raças e credos andariam de mãos dadas"?


Luciano Canhanga

segunda-feira, junho 09, 2008

CHEGARÃO TODOS À META?


Soou o tiro de largada...
Oh gente, haverá pulmão para que todos cortem a meta?
Uma taça (governação) e
Várias medalhas (lugares parlamentares) aguardam por eles...

PRS, FNLA e Companhia, Chegarão todos à meta? Haja peito...





Luciano Canhanga

quarta-feira, junho 04, 2008

PODE SER HOJE!


Marca o calendário 04 de Junho de 2008. Faltam 93 dias para atingirmos o dia 5 de Setembro de 2008, a data provável para a realização das segundas eleições em Angola. A lei eleitoral dá ao Presidente da República a prerrogativa de as convocar até 90 dias antes da data de realização.

Ontem o Conselho da República, órgão consultivo do Chefe de Estado, esteve reunido e achou que há condições para que os angolanos possam ir às urnas na data que Eduardo dos Santos, o presidente angolano, indicou aquando do seu discurso de fim-de-ano, que é 5 ou 6 de Setembro.

No seu discurso, aos conselheiros e à Nação, Eduardo dos Santos, referiu que o memorando que lhe foi apresentado pelo Presidente da Comissão Nacional Eleitoral dá conta que até 4 de Setembro estariam reunidas as condições objectivas para o pleito.

Disse ainda o presidente que ele estava assim em condições de em qualquer momento fazer a respectiva convocação das eleições legislativas.

Por tudo quanto se disse, e contando o tempo que temos pela frente, o Presidente da República tem apenas 2 ou 3 dias para convocar as eleições, caso as mesmas tenham de acontecer no dia 5 de Setembro que será numa sexta-feira. Certo que o Chefe de Estado angolano não as convocará para o dia 6, que calha num sábado, para evitar a abstenção dos adventistas do sétimo dia que normalmente não fazem nada ao sábado que não seja orar ao seu Deus. Portanto, PODE SER HOJE!


Luciano Canhanga

terça-feira, junho 03, 2008

ESTRADAS BIENAS: ENQUANTO SE ESPERA APENAS POEIRA E DESALENTO


Já dizia o poeta maior que "eu já não espero, sou aquele de quem se espera". Fazendo fé nas proféticas palavras de Neto, a juventude do Kuito parece algo inconformada pela "lentidão" na reposição de alguns serviços essenciais. Faltam o ensino Superior, as estradas asfaltadas, o comboio e a reabertura do aeroporto, só para citar algumas carências mais à mão.

Na cidade do Kuito notam-se algumas pequenas melhorias, no que tange à reabilitação das faixadas mais atingidas pela guerra, mas a empreitada ainda nem está ao meio. Os interiores ,também seriamente danificados, aguardam a sua vez.

Reasfalta-se a Rua Joaquim Kapango, mas lá pelo Kunje são os buracos que tomam conta da situação. Nas proximidades da Cadeia, isto é, entre o mercado do Chossindo e a cidade, uma ravina cortou a estrada e a reparação tarda em chegar.

A energia eléctrica já ilumina as ruas, mas em muitas casas ainda reina a escuridão. A água tarda em chegar às torneiras, apesar de estarem por aí muitos rios. Os aviões devem colar e descolar este mês, a fazer fé nos pronunciamentos do director das obras públicas, aqui nesta página publicadas, mas o que se ouve é que a data da abertura foi dilatada.

O comboio, ai o comboio! Ainda nada! Nada mesmo.

Fui ao Kunje ver o que resta das antigas carruagens de carga. Apenas saudade de um tempo que a juventude de hoje nem tem memória. Quem dele reclamam são os velhos que nele viajaram e que sabem quanta falta lhes faz. Os jovens querem mesmo é que se acelere a reparação da estrada Kuito/Huambo, transformada hoje num caldeirão de poeira.

Quem vai ao Huambo (150km) resolver um assunto administrativo tem de ir um dia antes, pois terá de arranjar um sitio para tomar um banho e mudar de roupa. "De branco nem vale a pena viajar", desabafou Nuno Mango, 31 anos, natural do Kuito.

São essas coisas que desanimam quem se julga ter perdido a paciência. "No Huambo a vida já é outra e também sofreram como nós", outro desabafo de um companheiro de viagem num Toyota Corrolla sem ar condicionado e quem não podia manter os vidros baixos. Entre o calor a a poeira há sempre que escolher um mal menor.

E agora que o município do Kuito consta dentre os que têm já as finanças descentralizadas, a juventude olha para o Camarada Moisés, administrador municipal, também ele um jovem, como a tábua de salvação.

Luciano Canhanga