Joaquim Uanga não esconde que a luta pelo voto será renhida entre as principais forças em jogo. O primeiro-secretário do MPLA não menospreza, por isso, nenhum dos adversários e diz que só com muito trabalho a safra cairá certinha para o seu “cesto”.
Pergunta (P): Estamos a cinco meses das eleições, qual é o estado de preparação do vosso partido para a corrida?
Joaquim Uanga (J.U.): O nosso partido está a gozar de uma boa saúde e preparado para todos os desafios que surgirem. Por isso correspondemos ao programa nacional de contacto entre os dirigentes e a base, no dia 05/04, isto para incrementar do trabalho que temos vindo a fazer, há muito tempo. Nesta base informamo-nos sobre quem são e onde estão os nossos militantes e simpatizantes, tomamos nota das preocupações das populações, informamo-las sobre os esforços do governo e as perspectivas do país com um novo governo do MPLA.
P: Está a dizer que o contacto porta-a-porta já começou?
J.U.: Esse trabalho já, há muito, tem sido feito. Aqui no Bié evitamos trabalhar com estimativas e desde o fim da guerra que temos vindo a desenvolver campanhas porta-a-porta com o fito de obtermos dados reais sobre com quem contarmos em Setembro.
P: E com que números conta o MPLA no Bié nesta altura?
J.U.: Os dados são positivos e satisfazem a direcção do partido. De momento não os vamos revelar, mas podemos dizer que os resultados de Setembro serão diferentes dos obtidos em 1992.
P: Grosso modo, quem melhor recebe a vossa mensagem?
J.U.: Nós estamos com 60% de mulheres e a juventude. As primeiras sofreram na pele e os jovens assistem as mudanças positivas que o governo do MPLA efectua na província e que podem ser ampliadas continuando no poder.
P: Olhando para os números de 1992, qual é a principal meta do MPLA?
J.U.: Para responder à sua pergunta devo dizer que nós estamos a fazer o nosso serviço sob a palavra de ordem “MPLA trabalhar para vencer”. É este o objectivo do partido.
P: A vitória incluirá inverter os 5-0?
J.U: Não gostaria de criar falsas expectativas. Tudo fazemos para que o voto seja livre e respeitamos todos os que participarão da corrida. A única coisa que lhe posso dizer é que nós pretendemos cumprir com os nossos objectivos e, para tal, vamos continuar a convencer o eleitorado sobre as vantagens do nosso programa de governo, esforços que nos levarão à vitória no Bié e em todo o pais. De momento preferimos falar sobre o trabalho que nos levará a colher bons números em Setembro.
P: Há ainda hoje no Bié espaços cativos do MPLA e da UNITA?
J.U.: Vou falar apenas de nós que estamos em todos os nove municípios, nas trinta comunas e em todas as aldeias e embalas onde a única coisa que muda são os números, devido à densidade populacional de cada aglomerado. Em termos de força e presença estamos em todo o território bieno.
P: Enquanto primeiro-secretário do MPLA na província, qual é o adversário que mais o preocupa?
J.U.: (Risos) Penso que não devo eleger nem o adversário mais forte nem o mais fraco. Todos são adversários e porque as eleições, às vezes, trazem alguma surpresas o respeito é para todos.
P: Os políticos da oposição queixam-se frequentemente da intolerância política por parte dos militantes do MPLA. Verdade ou mentira?
J.U.: Ouvimos com frequência, mas temos vindo a refutar esses vocábulos, porquanto nunca foi nosso apanágio incitar ninguém para essas acções. O que se passa, na verdade, tem sido a rejeição, na base, de determinadas mensagens e políticos que deixaram de cativar as populações. Nós ganhámos o nosso espaço, fruto das nossas obras e os que se queixam são aqueles que perderam espaços ou que não conseguem tirar sequer “migalhas do nosso b
olo”.
P: Está a dizer que o MPLA domina agora as antigas praças-fortes da UNITA?
J.U.: Não é por aí. Nós não falamos em praças-fortes nem a sul nem a norte. O que posso avançar é que o MPLA no Bié está agora em toda a parte e instalado com muita aceitação. A tal dita intolerância não é mais do que a rejeição das populações que já tiveram sob o seu controlo no passado. Digo mesmo que não seria justo que o MPLA que abriu o país ao multipartidarismo estivesse agora a impedir a acção política da oposição.
P: Mas numa corrida eleitoral as regras são pouco claras…
J.U.: Sempre fazemos o jogo limpo.
P: Estamos em contagem regressiva e a educação cívica é importante...
J.U.: Essa questão sempre constou do nosso programa. O conhecimento dos nossos símbolos, por parte dos eleitores, e a sua mobilização para o voto é pão de cada dia.
P: Queixa-se também a oposição que o MPLA bloqueia as actividades de outras forças políticas realizando actos paralelos…
J.U.: Que eu domine essa informação não. Todos os partidos são livres de realizar as suas actividades, desde que não estejam fora da lei. O que não se deve reclamar é a concorrência que depende apenas da capacidade de mobilização. Nós nunca reclamamos sempre que outros se anteciparam às nossas actividades. É preciso que esclareçam o quê que os amedronta.
P: Discursos com vivas e abaixos são ou não perigosos à coabitação pacífica?
J.U.: Enquanto dirigentes actualizados, sempre jogamos com os contextos. Usávamos estas expressões para combater a guerra. Conseguida a paz não vemos mais razões para tal. Só as pessoas desactualizadas é que continuam a dizer abaixo ao nosso presidente, entre outras asneiras. Estas pessoas que ainda agem como se estivessem na década de 80 devem é ser perdoadas para se evitarem mais confusões.
P: Olhando para a cidade do Kuito e para a província no geral, há reconstrução, mas também há atrasos nas estradas, o comboio não apita e os aviões não pousam no Kuito. Isso preocupa ou não o partido que governa?
J.U.: Temos consciência de que não é possível a reconstrução, em seis anos, daquilo que foi destruído em mais de trinta anos de conflito e ainda fazer quilo que se devia ter feito e não se fez.
O nosso governo está com duas empreitadas: fazer e refazer. Nós estamos a acompanhar e a tranquilizar os bienos que as estradas terão novos tapetes, que a energia chegará à casa de todos, que as escolas e a saúde atingirão todas as aldeias e de igual forma a água. Quanto ao aeroporto, temos a garantia de que será reaberto em Junho, estando nesta altura concluídos mais de 50% da empreitada. Estou também certo de que as pessoas vão compreender que valeu apenas esperar pelo tempo que duram as obras, já que é um trabalho de profundidade. O Comboio também voltará a apitar.
Luciano Canhanga