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quarta-feira, novembro 22, 2017

À MESA COM MANGA DE DEZ

Na cidade e nos bairros, até mesmo nas aldeias e nas sanzalas rurais, o assunto era de "consumo" obrigatório nas conversas da mocidade e dos casais adultos. Os jovens, por causa do conflito geracional e das opções morais e ou económicas. Entre os casais adultos, sempre em surdina, por causa de desvios e obediências à norma imposta pelo sacramento matrimonial. Todos, pelo menos os adultos, comentavam. Uns atacavam sem dizer a que acto ou objecto se referiam. Outros defendiam em voz inaudível e sempre escondidos. Assim foi até que o assunto das frutas chegou à mesa de um casal com os filhos distribuídos desde infantes a jovens plenos.
Jantavam descontraídos. Pai, mãe e quatro filhos. Dos rapazes, o primeiro é o mais velho, já na casa dos vinte e o mais novo ainda derradeiro. As meninas eram intermédias, sendo que a mais velha caminhava apressada para os dezoito. A propósito, o que é mesmo que as meninas fazem depois dos dezoito?
Como contava, ele e ela deliciavam-se de carne fecunda com 14 graus. Assim chamava ele a pomada lusitana de castas seleccionadas.
A garotada ora ria ora provocava-se. Brigas próprias de manos que se seguem... E falava-se sobre o dia de cada um, de forma soft e a descompressionar a jornada extenuante dos cinco dias. Era sexta.
À dada altura, o garoto de sete anos interrompe a mãe e dirige-se muito sério ao progenitor.
- Papá, manga de dez cuia?
- Ele a procurar o sentido daquela pergunta e a resposta a fornecer enquanto a mulher sem dar entender via-se que "fervia no vibrador evolutivo" e de faca em riste. Eram distintas as respostas que mãe e filho aguardavam. Também podiam ser diferentes as reacções.
O garoto não desarmou e, entre uma garrafa e outra, voltou a questionar. Tinha ouvido, ao sair do colégio, uma conversa entre gente barriguda e de cabelos algodoados sobre a referida fruta e o seu preço.
- Papá, manga de dez cuia?
- Filho, eu só compro mangas em baldes e o preço vai de quinhentos Kwanzas em diante!
Uffffas. Esses miúdos arranjam cada sarilho, pá!
O jantar continuou por mais alguns minutos, os jovens e garotos sempre em risadas, mas já não foi a mesma coisa para o casal, pois aquela resposta do Loló das Kilumbas, no dizer de Mingota dya Paxi, ficou entre o sim e o não. Foi um nim!
 
Texto publicado no Jornal de Angola de 3 Set/2017
 
 

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